Os melhores já fugiram Com medo de que mais pugilistas aproveitem para escapar da
Cuba é um fiasco social e econômico – mas os cubanos podiam se orgulhar da excelência de seus boxeadores, cujas conquistas incluem 32 medalhas de ouro em Olimpíadas. Já não é assim. Os melhores pugilistas simplesmente fugiram da ilha dos irmãos Castro. Os ringues cubanos estão tão devastados que Cuba, para evitar novas fugas, já anunciou que não participará do próximo Campeonato Mundial de Boxe Amador em agosto, na Itália. A situação é totalmente esdrúxula, do tipo que só pode ocorrer numa ditadura comunista. Nos outros países, um desportista pode emigrar e retornar sempre que necessário para defender sua terra natal em Olimpíadas e em grandes competições. Em Cuba é diferente. Os cidadãos não podem deixar a ilha-prisão sem autorização especial do regime, o que é difícil de obter. Quem sai sem autorização é declarado traidor, perde a cidadania e, se voltar, vai para a cadeia. Duas semanas atrás, quando o cubano Juan Carlos Gómez foi impiedosamente surrado pelo ucraniano Vitali Klitschko na disputa pelo cinturão dos pesos-pesados do Conselho Mundial de Boxe, poucos cubanos puderam lamentar publicamente a derrota. Como Gómez escapou em 1995, a simples menção de seu nome pode levar um torcedor a ser interrogado pela polícia. Com a economia em frangalhos, as residências em ruínas e a sufocante vigilância exercida pela polícia secreta, a fuga é a única oportunidade de vida melhor para a maioria dos cubanos. O modo mais comum de escapar é aventurar-se no mar, em embarcações improvisadas, para chegar à costa dos Estados Unidos ou ao México. Desde que Fidel Castro tomou o poder, há cinquenta anos, um em cada seis cubanos deixou a ilha. Grandes pugilistas sempre foram tratados como heróis nacionais na ilha e desfrutavam regalias inimagináveis para um cubano comum, como dirigir o próprio carro e viajar ao exterior. Mas a situação está ruim até para os ídolos. "Com a economia cubana em declínio, até mesmo campeões olímpicos levam uma vida de privações", disse a VEJA a americana Paula Pettavino, autora de um livro sobre esportes em Cuba. Fugir e se profissionalizar no exterior tornou-se uma questão de sobrevivência mesmo para esportistas de alto nível. Em 2006, os pugilistas Odlanier Solís, Yuriorkis Gamboa e Yan Barthelemy, todos campeões olímpicos em sua categoria, aproveitaram uma competição na Venezuela para escapar. Os três foram para os Estados Unidos, onde se tornaram profissionais de sucesso. No ano seguinte, durante os Jogos Pan-Americanos, no Rio de Janeiro, o campeão mundial Erislandy Lara e o bicampeão olímpico Guillermo Rigondeaux tentaram a sorte. Presos pela polícia brasileira, foram entregues à ditadura cubana em menos de 48 horas. De volta à ilha, foram proibidos de lutar. Para comprar comida, eles chegaram a vender suas medalhas e troféus. Na primeira oportunidade, Lara e Rigondeaux fugiram novamente – dessa vez de barquinho, enfrentando com sucesso o mar do Caribe. Donos de seu destino e a salvo da ditadura cubana, eles já assinaram contrato com uma academia alemã, a Arena, que financiou a fuga. Rigondeaux chegou a Miami no mês passado, com outros dois medalhistas cubanos e um jovem lutador de 23 anos. Nas últimas duas décadas, mais de quarenta jogadores de beisebol cubanos ingressaram em equipes da principal liga americana. José Contreras, cujo salário era de 23 dólares mensais em Cuba, fugiu em 2003 e assinou um contrato de 32 milhões de dólares com o New York Yankees. Há três semanas, a seleção nacional de beisebol foi eliminada do World Baseball Classic. Foi a primeira vez que Cuba não subiu ao pódio nas últimas cinco décadas. Como tudo o mais na ilha, o esporte cubano está aos pedaços.
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