Política
a Grécia fora do Euro
“Face ao impasse eleitoral na Grécia cujo processo de constituição de governo acabou por ficar nas mãos da chamada “Esquerda Democrática” (19 deputados num parlamento de 300) na última sexta-feira 11 de Maio o ministro das Finanças alemão Wolfgang Schaulble ameaçava a Grécia com a possibilidade de saída do Euro. Expulsar a Grécia do Euro por esta estar a desrespeitar os “mercados” é usar a cartada da força, é condenar o país à falência.
Uma ruptura na zona Euro seria de facto um retrocesso histórico - se o país disser que não quer cumprir com o compromisso neoliberal estará de facto a auto-excluir-se. E, apesar da perda de 17% do PIB e do desemprego que saltou dos 8% para mais de 20% desde que o país está intervencionado pela Troica FMI-BCE-UE, as sondagens eleitorais sugerem que 77% dos gregos querem continuar na zona Euro (1). Não existe uma possibilidade de saída ordenada do Euro. Não ficar seria uma tragédia. Rejeitar o sistema de financiamento do país pelos “mercados” significaria que o comércio ficaria interrompido por meses e que os bancos seriam obrigados a
reintroduzir moeda nacional debaixo de uma desvalorização enorme.
Estamos a falar do caos...”
Quem traça este cenário catastrófico em entrevista ao DN é Viriato Soromenho-Marques (ver video e link abaixo), um filósofo que não se assume nem de esquerda nem de direita – e quando assim é – quando não se assume a diferença, é porque é de direita (VSM é admirador de Edmund Burke, o fundador do conservadorismo clássico), adepto de um maior federalismo europeu (a expressão “
United States of Europe” é a única que recolhe a classificação de triplo AAA da Fitch), propõe que o BCE passe a dispôr de estatutos que lhe permitam emprestar dinheiro directamente aos Estados membros (o chorudo negócio do endividamento, como é evidente, não pode ser descartado) e critica abertamente François Hollande por o novo presidente francês ter caído na generalizada hostilização dos “mercados” no seu discurso de vitória, não se tratando já, portanto, da mera retórica ideológica para seduzir eleitores, mas de “combater um inimigo sem rosto”. Para VSM os “mercados” no sistema neoliberal que pretende substituir o antigo sistema de créditos por bancos de fomento e investimento, são uma coisa sem rosto; Vejamos como os define:
“há aqui uma profunda incompreensão, e isto é que é grave, por parte dos dirigentes europeus, dos mais reesponsáveis, dos que têm o poder de decisão, da natureza dos mercados. Temos uma tendência para uma diabolização dos mercados, como se fossem uma entidade única, clarividente, com um propósito definido, quando são na realidade a coisa mais plural que existe”. Como assim? - Aqui, Viriato Soromenho Marques faz várias tábuas rasas nesta unica onda - para além dos bancos nunca terem sido apenas os gestores de poupanças (muitos menos das dos trabalhadores) esquece a luminária que a relação dos fundos financeiros sobre valores ficticios em circulação atingem neste momento 73,5 vezes os valores das mercadorias que sustentam a economia real (e é o senhor Hollande que vai mudar isto?)
"Os mercados são, por exemplo, os politicos espanhóis, que na primeira fase da crise, ainda ela estava nos EUA, estavam a transferir as suas contas de bancos em Espanha para a banca no estrangeiro. Isso é um movimento de mercado! quando os aforristas gregos, irlandeses e portugueses depositam dinheiro em contas de bancos alemães com 10% em Portugal e 90% na Alemanha para garantir que no caso de haver uma debacle em Portugal, 90% do seu capital fica garantido na Alemanha, isso são os mercados! Os mercados não é o senhor Soros! são esses movimentos de pânico, de medo, de esperança, de expectactiva. O que é lamentável aqui é termos pessoas que vão decidir da vida de 500 milhões de europeus que não sabem fazer a diferença entre banqueiros especuladores, entre fundos oportunistas que funcionam como predadores do mercado, e a massa dos mercados, que é formada pelas poupanças dos trabalhadores que são fundamentais para a fluidez dos mercados globais. Do que precisamos hoje, para salvar a Europa, não é chamar nomes aos mercados, não é confundir e camuflar a incompetência de politicos acusando um inimigo sem rosto".
A Reserva Federal é o único sistema de bancos centrais que são livres para poder emitir e emprestar o dinheiro que quiserem directamente ao Estado (no caso os EUA). A nivel global, existem apenas 18 grandes bancos e/ou conglomerados financeiros operadores no mercado primário de emissões de dívida pública por leilão que estão credenciados pelos Acordos de Basileia para avalizar dívida soberana de Estados, a saber:
Bank of America, Goldman Sachs, Barclays Capital, J.P. Morgan, Calyon, Citigroup, Commerzbank, Crédit Suisse, UBS, Deutsche Bank, HSBC, Morgan Stanley, Natixis, Royal Bank of Scotland, Societé Generale, Nomura e Santander. (in “As Dívidas Ilegitimas”, François Chesnais, pp167).
O tecido accionista destes grandes conglomerados e suas subsidiárias pensa-se que atinjam um número em volta de apenas 300 milhões de investidores-accionistas, cerca de 90% dos quais são norte americanos, ou seja, 4,3% das pessoas que vivem no planeta dispõem de meios de financiamento exclusivo e poder para decidir sobre todos os outros sobre quem vive, vegeta ou morre. E então sr. Soromenho,
estas instituições têm rosto ou não têm rosto? .
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