O Estado de S.Paulo
A intangibilidade da União Europeia era um tabu. Mas desde quinta-feira a exclusão dos gregos ganha força
Há um mês, um político ou um jornalista que levantasse a hipótese de ruptura da zona do euro, começando com a saída da Grécia, seria duramente criticado. Seria um sacrilégio, algo tão inimaginável como negar a lei da gravidade ou a virgindade da Virgem Maria.
Mas hoje o tabu foi quebrado. Pessoas audaciosas, outras insensatas, algumas mais moderadas, falam disso nas capitais e em Bruxelas, sede da União Europeia. Desde a quinta-feira, discursos estrondosos quebram a calmaria de Bruxelas. O ministro holandês das Finanças, Jan Kees de Jager, afirmou que, "quando não conseguimos respeitar a regra do jogo, precisamos deixar o jogo".
Para que o segundo pacote de ajuda à Grécia imposto por Sarkozy a toda a Europa tenha efeito e bilhões de dólares sejam fornecidos à Grécia, é preciso que ele seja ratificado pelos diferentes Parlamentos. A França, dócil a seu dirigente, já o aprovou. Mas em outras partes os legisladores estão contemporizando. A Finlândia, Holanda e Alemanha declaram que suspenderão a ajuda se Atenas não acelerar as reformas prometidas. A Finlândia exige que a Grécia forneça garantias suplementares. A Eslováquia, que detesta a União Europeia, só ratificará o plano em...dezembro.
A ideia de empurrar a Grécia para fora da zona do euro avança. O presidente da Autoridade dos Mercados Financeiros propôs que a Grécia seja colocada sob tutela. O pânico progride. Mas outras vozes tentam adiar o desastre, afirmando que a saída da Grécia da zona do euro não vai conter a infecção. Se o país se retirar, os mercados desviarão sua artilharia para outros elos fracos, como Portugal ou Irlanda. Uma espécie de Lehman Brothers proporcional aos Estados europeus.
A Comissão Europeia gostaria de erigir barreiras contra o tsunami. Alega que a Grécia não tem o direito de sair da zona do euro: "a participação na zona do euro é irrevogável. Os tratados não permitem nem a saída da zona do euro e nem a exclusão dela".
Podemos avaliar assim, mais uma vez, como o tratado de Maastricht foi barroco, irresponsável, perigoso e cego. Foi redigido por amadores, que ignoravam os rudimentos da economia e das finanças. Como impor à Grécia e à Alemanha as mesmas taxas de juro, a mesma lei financeira e econômica? E para cúmulo, a proibição de um desligamento da zona do euro acaba ligando todos os outros à infelicidade do país lesado, fraco. É o sistema usado pelos alpinistas em que todos ficam amarrados à mesma corda. Cada um apoia os demais. Se um deles se precipita, pode levar todos os outros para o abismo.
O único meio de salvar a Grécia e o euro seria a saída da Grécia: os gregos poderiam desvalorizar sua moeda e retomar sua produção, hoje na estaca zero. E os outros países da zona do euro estariam protegidos contra a gangrena. Caso contrário, a Grécia continuará se sufocando nos planos de austeridade, cujo único efeito será reduzir ainda mais sua atividade econômica. Durante este tempo, centenas de bilhões de dólares mobilizados por Nicolas Sarkozy continuam a derreter como o orvalho sob o sol. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO