O Estado de S. Paulo - 23/08/2012 |
Se pairava alguma dúvida, agora já não há mais. A evolução do IPCA-15 mostrou que existe um processo de esticada da inflação que não vinha sendo previsto pelo Banco Central, presidido pelo economista Alexandre Tombini. Falta agora saber qual o impacto desses novos fatores sobre a economia e o que fará o Comitê de Política Monetária (Copom), que tem reunião agendada para os próximos dias 28 e 29. Para quem não está familiarizado com as coisas da Economia, esse IPCA-15 é o mesmo IPCA, sigla do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, a medição oficial da inflação utilizada pelo Banco Central para definir sua política de juros – ou seja, sua política de expansão do volume de moeda na economia. Esse 15 corresponde ao período de 30 dias terminado no dia 15 de cada mês. Define, portanto, a prévia do IPCA, mas 15 quinze dias antes. Há dois fatores de causação recíproca puxando pelos preços: o aumento da cotação do dólar (câmbio), induzido pelo Banco Central com o objetivo de dar mais competitividade à indústria; e a disparada dos preços internacionais dos grãos (principalmente milho, soja e trigo), em consequência da forte seca nos Estados Unidos. Como essas cotações são definidas em dólar (26% mais caro nos últimos 12 meses), a alta chega ao mercado brasileiro com dupla força, como alta das commodities e como alta do dólar. Além desse impacto há o dos combustíveis. O reajuste do diesel, de 6%, no dia 12 de julho, já foi ou está sendo repassado para os preços. Mas há o da gasolina, que deverá sair apenas depois das eleições. São fatores com que o Banco Central não contava até agora para a formação dos preços, como consta nas atas das últimas reuniões do Copom. Mas são suficientemente altos para puxar a inflação mais para a altura dos 5,5% ao ano do que para o centro da meta, de 4,5%, que vinha sendo a aposta do Banco Central. Por enquanto, o Banco Central ainda trabalha com a hipótese de que essa puxada não passa de soluço, de reversão relativamente rápida. A justificativa é que o câmbio permanecerá à altura de R$ 2 por dólar e, assim, já provocou a inflação que tinha de provocar e que a alta dos alimentos também chegará logo a seu teto e depois declinará. No caso dos alimentos, as coisas podem se complicar mais, por duas razões: (1) porque os estoques estão relativamente baixos e deverão ser reforçados pelos governos pelo temor de que possam vir a faltar; e (2) porque a melhora da atividade econômica nos Estados Unidos poderá elevar a demanda. Além disso, há ainda o aumento do consumo interno no Brasil (de cerca de 6% ao ano), induzido pela política de redução de juros e pelo estímulo ao crédito. Esse consumo avança bem mais do que a produção e tende a cobrar seu preço com mais inflação. Provavelmente o efeito desses elementos novos sobre a marcha da política monetária (política de juros) será relativamente baixo, porque parece haver uma decisão de governo de persistir com o processo da derrubada dos juros. Mas fica bem mais difícil evitar que, em 2013, o Banco Central seja obrigado a aumentá-los novamente para combater a inflação ou, então, a comprimir o crédito para evitar que uma demanda forte demais complique o controle da inflação. Afora isso, há o fato de que a administração Dilma não vem conseguindo entregar duas promessas insistentes: crescimento econômico (PIB) na ordem de 4% ao ano e inflação na meta. CONFIRA O Fed prepara a impressora. A ata do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) divulgada nesta quarta-feira deixou poucas dúvidas de que está em preparação nova operação de afrouxamento quantitativo. Trata-se de emissão de moeda para recomprar no mercado títulos do Tesouro americano. É um mecanismo destinado a injetar mais dinheiro na economia e reduzir ainda mais os juros para facilitar o crédito, sobretudo o hipotecário, e, assim, reanimar o setor produtivo e o emprego. |