A inflação mais solta - CELSO MING
Política

A inflação mais solta - CELSO MING




O Estado de S.Paulo - 23/10


E se a inflação voltar a dar os seus pinotes?

A pergunta não é mera especulação dos aflitos de sempre. As pressões sobre os preços estão aí e o Banco Central vai novamente ser colocado na berlinda, porque vem prometendo a tal convergência para a meta - ainda que "de forma não linear".

O Índice de Preços ao Consumidor - Amplo-15 (IPCA-15) acionou sinais amarelos. Mostrou, em outubro, avanço da inflação de 0,65%, bem acima do 0,48% de setembro. (Para quem não está habituado com a dança de siglas, esse IPCA-15 é o mesmo IPCA, com a diferença de que reflete os 30 dias de comportamento dos preços no período terminado no dia 15, não no dia 30.)

O Banco Central aponta certos focos de inflação, mas não lhes vem dando importância. Na última Ata do Copom, distribuída quinta-feira, admitia esticada relevante nos preços dos alimentos, mas entendeu que seria rapidamente dissipada, porque se concentrava na alta das principais commodities agrícolas, motivada pela estiagem que atacou os centros produtores dos Estados Unidos.

Mais do que consequência de um choque externo, essa parece uma inflação típica de demanda. Ou seja, é acionada pelo aumento do consumo não acompanhado pelo aumento da oferta. O Banco Central já admitia geradores no maior aumento de despesas do setor público e no avanço dos salários acima da produtividade do trabalho. Mas não contava com uma aceleração, convencido de que a crise externa atuaria a favor da contenção dos preços.

Questão ainda à procura de resposta convincente: se um ano como este, em que o PIB cresce só 1,5%, terá inflação entre 5,5% e 6,0%, o que será de 2013, quando se espera mais do que o dobro de expansão do PIB?

Caso a inflação volte com mais força, cabe perguntar que mecanismos o Banco Central usará para conter a aceleração dos preços, uma vez que a decisão é não aumentar os juros. Apenas para lembrar, a mensagem mais importante que veio da última reunião do Copom é a de que os juros básicos (Selic) permanecerão nos 7,25% ao ano "por um período de tempo suficientemente prolongado".

Uma opção é retomar os tais mecanismos macroprudenciais que caíram no gosto do governo Dilma e do Banco Central, que a toda hora lembram de seu poder de conter os preços. São decisões cujo principal objetivo é dar mais segurança ao mercado financeiro, mas podem ter efeitos colaterais. Exigência de mais capital dos bancos ou redução do número de prestações nas operações de crédito podem conter o consumo e, por essa via, a inflação. O problema é que também podem desacelerar a atividade econômica.

Outra opção é deixar o câmbio mais solto. A queda das cotações do dólar tenderia a baratear os preços dos importados e, assim, a segurar a inflação. Mas tiraria capacidade de competição da indústria.

O Banco Central tem sido tolerante. Já não faz questão de garantir a inflação na meta dentro do ano-calendário. E é possível que essa tolerância fique ainda mais elástica, digamos assim. Isso mostra que vem assumindo cada vez mais riscos. Qualquer imprevisto pode ser suficiente para deixar a inflação escapar.



loading...

- Mais Inflação - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 06/10A inflação de setembro foi mais ou menos o que se esperava: avanço do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 0,57% em relação ao de agosto. A acumulada no ano (até setembro) é de 3,77% e em 12 meses, de 5,28%.Dizer...

- A Inflação Escapa Da Meta Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 23/08/2012  Se pairava alguma dúvida, agora já não há mais. A evolução do IPCA-15 mostrou que existe um processo de esticada da inflação que não vinha sendo previsto pelo Banco Central, presidido pelo economista Alexandre...

- Mensagem Ambígua Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 29/07/2011 Desta vez, o Banco Central foi ainda mais ambíguo no texto da Ata do Copom divulgada ontem. Insistiu num quadro geral cujo desfecho tenderia a ser o da redução da inflação: "O cenário prospectivo para a inflação...

- Celso Ming Mais Incertezas
O Estado de S. Paulo - 02/03/2011  O Copom, presidido por Alexandre Tombini, decide hoje o novo nível dos juros básicos (Selic) em um ambiente bem mais carregado de incertezas do que havia no dia 19 de janeiro, data da última reunião, quando a...

- Celso Ming A Inflação Perde Força
O que fica agora para ser discutido não é mais se os juros básicos (Selic) vão ser cortados, mas quanto vão ser cortados. Uma redução de 0,25 ponto porcentual agora parece pouco diante da força do recuo da inflação. Os números do IPCA vieram...



Política








.