A invenção de Sá Carneiro
Política

A invenção de Sá Carneiro


Quando chega a efeméride de carpir pelo líder póstumo-ideal, os neoconservadores (gatos pingados da social-democracia) nunca se cansam de invocar “o Francisco”. Um, como os violinos de chopin no enterro, “porque faz muita falta”, outros para ganhar uns trocos políticos com “revelações que não revelam nada”; outros ainda porque nunca imaginaram que Portugal pudesse viver sem o sebastião de serviço na sua respectiva época. Ora o Francisco, um menino família dos Condes de Lumbrales, estava-se nas tintas para qualquer cena demasiado activa que o desviasse das suas aventuras de tranquilidade emocional – depois do 25 de Abril, como tanto outros gran-burgueses, “ponderou ir viver para o Brasil, mas com o 25 de Novembro à vista, tudo se recompôs e regressou a Lisboa e ao Partido… (Conceição Monteiro, P2 Público 3 de Dezembro).

Os carreiristas do revisionismo histórico têm usado de todas as artimanhas para reconstruir a imagem do “homem que queria acabar com a tutela militar a que Portugal estava submetido”. Passam ao lado do facto histórico que Sá Carneiro pretendia eleger o general de extrema direita Soares Carneiro e impôr um golpe referendário sobre a Constituição. Acabava com a “ditadura militar” levando um General a presidente?. Mas não foi por essa insignificância que o grelharam naquela noite. Foi pelo azar da companhia envolvida em labaredas mais altas que o futuro ícone ardeu.

O ministro da Defesa Amaro da Costa ficou estupefacto quando, passado meia dúzia de anos do fim da guerra colonial, ainda se movimentavam muitos milhões de contos através de uma coisa chamada “Fundo de Defesa Militar” – aparentemente tudo leva a crer tratar-se da transferência da empreitada da guerra aos turras nacionais das colónias para a guerra contra outros terroristas sob a égide de outras mais elevadas instâncias. Dois meses antes do atentado Amaro da Costa teve uma reunião secreta com o ex-secretário de Estado Henry Kissinger (versando o processo Irão-Contras) de onde se diz o ministro ter saído em pânico. Quem o afirmou foi o chefe de gabinete de Amaro da Costa, coronel Hugo Rocha (já falecido) que publicou em 2007 a biografia “Recordações – Militar, Diplomata, Governante” (editado pela Prefácio) onde faz revelações que convocam outros testemunhos. A saber, enquanto estão vivos sempre se podem chamar a depor três personagens chave: o supracitado Kissinger, o general Ramalho Eanes presidente por uma década, eminência parda da Opus Dei e mandatário presidencial por duas vezes de Cavaco Silva (que garante não ter havido nada)… e o primeiro ministro seguinte e ex-lider do PSD Francisco Pinto Balsemão que inaugurou o baile como debutante no Grupo Bilderberg algum tempo depois, via por onde foi nomeado presidente do Conselho de Administração do European Institute for the Media . Obviamente, são todos peças de fruta demasiado pesada e madura para serem expostos a uma justiça que não chega a este nível de banca de mercado

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