Laura Ming
Reuters |
De volta ao mar Equipe resgasta pedaço da fuselagem do A330: as buscas por detroços recomeçam em fevereiro |
Passaram-se seis meses desde que o Airbus A330 da Air France mergulhou no Oceano Atlântico, matando 228 pessoas, e ainda não se sabem as causas do acidente. Para esclarecê-lo, seria preciso localizar a caixa-preta da aeronave, que registra todas as informações técnicas sobre o voo e grava a voz dos pilotos. Apesar dos esforços das equipes de resgate para encontrar o equipamento do Airbus nos quarenta dias que se seguiram ao desastre, ele permanece no fundo do mar. Na semana passada, o BEA – órgão de segurança aérea francês – divulgou seu segundo relatório das investigações sobre a queda do Airbus. No trecho mais relevante do documento, o BEA recomenda uma série de medidas para facilitar as buscas pela caixa-preta e pelos destroços de aviões acidentados. O objetivo é aumentar a segurança na aviação – a elucidação de um desastre, principalmente em aeronaves de grande porte, contém lições valiosas para que os mesmos problemas e erros sejam evitados no futuro.
Atualmente, em caso de acidente, durante trinta dias a caixa-preta dos aviões – sensível a impactos e à água – passa a emitir ondas de rádio e sinais sonoros para facilitar sua localização. A primeira proposta feita pelo BEA é dotá-la de bateria mais potente para que o tempo de envio das transmissões seja aumentado para noventa dias. Na busca pela caixa-preta do Airbus foram utilizados sonares do Exército americano e submarinos franceses, mas eles não conseguiram detectar os sinais do equipamento antes que sua bateria se esgotasse. Em seu relatório, o BEA propõe que os aparelhos emissores de sinais e ondas de rádio sejam instalados também em partes da fuselagem. Cada pedaço da aeronave recuperado serve de pista para os investigadores reconstituírem o acidente.
Sem os dados da caixa-preta, é impossível para os técnicos que investigam a queda do Airbus da Air France obter informações cruciais como a velocidade, a altitude e a localização da aeronave no momento do acidente e nos minutos anteriores a ele. Para evitar que isso ocorra futuramente, o relatório do BEA sugere que, além de serem gravadas na caixa-preta, essas informações sejam enviadas a uma base em terra durante todo o voo. Atualmente, esses dados são passados algumas vezes, através de mensagens. O principal empecilho para a proposta do BEA é o custo elevado da transmissão ininterrupta das informações, feita por meio de satélites.
Uma das poucas certezas que se tem sobre a sucessão de eventos que levou à queda do Airbus da Air France é que os pilotos receberam informações desencontradas sobre a velocidade do avião minutos antes do acidente. Isso pode ter acontecido por congelamento dos pitots, os sensores de velocidade colocados na parte externa da aeronave. O BEA sugere que sejam feitos outros estudos sobre as condições atmosféricas nas rotas aéreas em altitudes elevadas. O voo da Air France atravessou fortes tempestades antes de cair. "Sabe-se pouco sobre o tamanho dos cristais de gelo nas nuvens localizadas a grande altura", diz o relatório.
O documento do BEA traz também novas informações sobre as análises feitas nos 600 pedaços de fuselagem do Airbus e nos 51 corpos resgatados no mar. As máscaras de oxigênio encontradas estavam fechadas, o que significa que não houve despressurização da cabine. As condições dos assentos da tripulação indicam que eles não estavam ocupados na hora do acidente, o que mostra que ninguém no avião se preparou para a queda. O órgão francês pretende voltar às buscas no mar em fevereiro do ano que vem, numa força-tarefa de sessenta dias que unirá diversos países europeus, Estados Unidos e Brasil. O objetivo é encontrar mais destroços da aeronave – e, quem sabe, a caixa-preta.
Gary Williams/Getty Images |