A investigação do acidente com o A320 da TAM
confirma que houve falha dos pilotos
Silva/AE/Sipa |
ERRO FATAL |
No fim da tarde do dia 17 de julho de 2007, a aviação brasileira sofreu sua maior tragédia. Um Airbus A320 da TAM varou a pista do aeroporto paulistano de Congonhas durante o pouso, chocou-se contra um prédio da companhia aérea e explodiu, matando 199 pessoas. Na semana passada, foi concluído o laudo pericial do acidente, preparado pelo Instituto de Criminalística (IC), órgão ligado à polícia de São Paulo. O trabalho da perícia, que deverá ser apresentado oficialmente nos próximos dias, confirma as informações registradas pelas caixas-pretas do avião: o erro primordial foi cometido pelos pilotos Kleyber Lima e Henrique Stephanini Di Sacco, que deixaram as alavancas que controlam as turbinas – chamadas de manetes – em posição errada na hora do pouso. Por causa disso, a turbina direita continuou acelerando durante a aterrissagem, enquanto a esquerda, sozinha, tentava frear o avião. O A320 se descontrolou e os pilotos não conseguiram pará-lo dentro dos limites da pista. Os peritos descartaram a hipótese de que tenha havido aquaplanagem e afirmam que não há nenhum indício de falha no equipamento do avião – nem no sistema de freios, nem nos manetes. Ou seja: o erro não foi da máquina, foi do homem.
O FURO DA REVISTA |
O relatório do IC aponta ainda falhas administrativas cometidas pela Agência Nacional de Aviação Civil, que deveria ter restringido pousos sob chuva, e pela Infraero, que liberou a pista do aeroporto sem que fosse feito o grooving (ranhuras para facilitar o escoamento de água). Também descreve deslizes da Airbus, que, segundo os investigadores, poderia ter instalado um alarme sonoro na cabine para alertar sobre a posição errada dos manetes, e da TAM, acusada de dar treinamento falho a seus pilotos. Trata-se do primeiro relatório conclusivo sobre o caso. A comissão da Aeronáutica que também investiga o acidente com o A320 ainda não terminou seus trabalhos. Em 1º de agosto de 2007, duas semanas depois do desastre, VEJA publicou uma reportagem de capa na qual revelava as causas do acidente, tomando por base informações gravadas pelas caixas-pretas do avião. Apontava-se para o erro dos pilotos na operação dos manetes e para a absoluta ausência de indícios de falha mecânica. A reportagem registrava que, se a área de pouso de Congonhas fosse um pouco mais extensa, as 199 mortes poderiam ter sido evitadas. Certamente é cruel para a família dos comandantes Lima e Di Sacco vê-los ser responsabilizados pela tragédia. Os dois, afinal, também estão entre as vítimas e não podem se defender. Mas a verdade é que manetes não se movem sozinhos. Com as alavancas fora de posição, mesmo que os outros erros apontados tivessem sido sanados, ainda assim o acidente teria ocorrido.