Política
a lição da Grécia, o efeito Syriza (III)
Especuladores divididos: Bruxelas quer garantir o 'financiamento-ponte' através do Mecanismo de Estabilização Financeira (MME) - em vez de 19 serão 28 os países obrigados a contribuir.
O FMI quer corte na dívida grega. Já há quem lhe chame o início da guerra entre FMI e Berlim, com a dívida grega como cenário. Num relatório confidencial e divulgado após a cimeira europeia de domingo, o Fundo dirigido por Christine Lagarde arrasa as palavras vagas sobre a restruturação e um maior corte da dívida da Grécia na declaração dos líderes da Eurozona. “
A deterioração dramática da sustentabilidade da dívida torna necessário o alívio da dívida a uma escala que teria de ir bem para além do que foi pensado até agora – e do que foi proposto pelo Mecanismo de Estabilidade Europeu”, diz o relatório do FMI.
“
a Política imposta pela Alemanha é um crime contra a Humanidade” -
afirma a presidente do Parlamento grego voltando a apelar ao Governo para que não aceite a chantagem dos credores para um acordo em que já nem o FMI acredita.
Revelar a origem da dívida grega provocaria uma revolução financeira mundial, afirma um membro da Comissão de Auditoria à Dívida Pública grega: “
é rídiculo culpar Atenas pela crise europeia”
concluiu Maria Lucia Fattorelli.
De facto é assim que funciona: Todos os governos que usam o Euro podem usar o BCE (no qual os Bancos-Centrais de cada país são sócios em partes proporcionais) para financiar os seus défices. Neste contexto, os Bancos-Centrais dos Estados-membros só cumprem as ordens regulamentadas pelo BCE, uma entidade supranacional não eleita, que decide à revelia da independência económico-financeira dos povos.
Quando os governos da União Monetária Europeia (UME) têm défices emitem obrigações do Tesouro que são compradas pela banca privada. Que por sua vez, ao apresentar esses títulos/obrigações de pagamento como garantia os bancos recebem esses valores em dinheiro novo emitidos pelo BCE como crédito. Se
para o BCE o valor emprestado é um papel, para quem o recebe e deposita é uma conta bancária consolidada em dinheiro pronto a levantar. É deste modo que funciona o esquema da dívida soberana. Mas os valores criados como dívida aos Estados não terminam no BCE. Entram na rede de especulação financeira global. O BCE revende essas obrigações no “mercado”: a fundos-abutre, a seguradoras multinacionais, a fundos financeiros de governos com superavit (p/e a Alemanha) e no geral a bancos de investimento comerciais estrangeiros.
Estima-se que o BCE não tenha mais que 20% da dívida que emite. Não se sabe, porque o BCE não divulga esses dados nos relatórios que publica. Ao menor sinal de dificuldade de pagamento as “Instituições” que supervisionam os “ratings” do esquema exigem
contrapartidas concretas, normalmente privatizações de sectores do Estado lucrativos para a tutela dos “credores”, oferta de “recursos humanos” a baixo custo, etc.
É um esquema mafioso levado a cabo por altas individualidades, aparentemente não intervenientes, que devem ser objecto de investigação e acusação criminal. Foi neste contexto que
Alexis Tsipras, num dos últimos momentos dramáticos das negociações gritou para Merkel: "Também querem Creta? O Partenon? Talvez toda a Acrópole, não?". Valeu a intervenção do polaco-americanófico
Donald Tusk, em representação não oficial de Obama e da NATO, de onde se subentende a existência de vertentes ocultas do “acordo”. Por via do FMI.
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