YOSHIAKI NAKANO Recessão e deflação global
Política

YOSHIAKI NAKANO Recessão e deflação global




Recessão global combinada com deflação fará estragos profundos no setor real da economia, como nos anos 30

SUPERADO o pânico do mercado financeiro internacional no início de outubro, o medo passa a ser a recessão global, que já dá seus sinais. O problema da inflação já foi retirado da agenda dos bancos centrais, pois ela deverá sofrer queda rápida nos EUA e na Europa e é provável uma deflação no próximo um ano e meio. Uma recessão global combinada com deflação provocará estragos profundos no setor real da economia, como ocorreu na década de 30. O Fed reduziu mais uma vez a taxa de juros e se os demais BCs, de forma coordenada, não reduzirem mais aceleradamente a taxa de juros para evitar uma deflação global, a recessão, além de profunda, poderá ser mais prolongada.
As projeções de crescimento global para este último trimestre do ano e para o primeiro de 2009 já foram revistas por todos e se tornaram negativas. O JPMorgan estima para este trimestre queda do PIB à taxa anualizada de 4% nos EUA, de 3% na Inglaterra e de 2% na área do euro e crescimento da economia global de 0,4% em 2009. Esses números poderão ser revistos para baixo, pois a economia da China poderá desacelerar mais fortemente em 2009, para um crescimento de 6% a 7%.
Nos países emergentes, num primeiro momento, a depreciação da taxa de câmbio vai elevar os preços dos bens comercializáveis, ainda que em menor grau do que nas experiências recentes, e no Brasil a indexação fará persistir a inflação de preços administrados. Mas tudo isso ocorrerá num quadro recessivo, tornando desnecessária a elevação da taxa de juros. Nos demais setores, vamos certamente assistir a uma deflação já no próximo ano.
A perspectiva que a crise financeira abriu para o Brasil é de pressão para a redução da taxa de juros. A taxa de câmbio já sofreu mudança de patamar devido à restrição externa de crédito e à inversão no movimento financeiro de capitais, que deverá persistir por longo período. Ainda, dificilmente cairá da faixa de R$ 2 ou R$ 2,10 e, certamente, não responderá à variação na taxa de juros, enquanto a crise financeira não for resolvida, o que levará de dois a quatro anos. Dessa forma, se a política de meta de inflação do BC tem que atuar hoje sobre a inflação futura, temos é que atuar com a perspectiva de deflação -e não de inflação.
O BC tem a oportunidade de uma redução da taxa de juros mantendo a sua credibilidade e aumentando a confiança, que é o que falta hoje. Uma redução nos custos de captação dos bancos, no momento em que há preocupação com seu prejuízo, é o melhor que se pode fazer para evitar uma crise de confiança. Além disso, o problema mais grave e prioritário no Brasil é a contração no crédito que, se não for restabelecido, poderá provocar uma recessão na economia brasileira. As medidas tomadas pelo BC, de redução no depósito compulsório dos bancos, não estão surtindo os efeitos desejados.
Se o BC paga no over ou em títulos públicos 13,75% sem risco, por que emprestar correndo risco desconhecido, dada a situação de incerteza que vivemos? Num quadro de crise financeira, com travamento do sistema de crédito e perspectiva de deflação, nada melhor do que a redução adicional dos compulsórios e a redução da taxa de juros.



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