Esta pergunta vale uns R$ 135 bilhões: até quando a economia brasileira poderá crescer em torno de 5% ao ano com uma taxa de investimento de apenas 18,5% do Produto Interno Bruto (PIB)? Os R$ 135 bilhões, obviamente, correspondem a 5% da produção interna dos 12 meses terminados em junho. O País tem investido uma parcela crescente de seu produto, nos últimos sete ou oito anos, mas precisa fazer muito mais não só para acelerar sua expansão econômica, mas até para manter o desempenho recente.
A economia pode crescer a curto prazo pela ocupação da capacidade ociosa, mas no Brasil esse espaço é cada vez menor. A médio prazo o crescimento é determinado pela combinação da taxa de investimento com a produtividade do capital adicionado ao sistema. Boa parte da expansão econômica brasileira, nos últimos anos, deve ser explicável por ganhos de produtividade. O aumento da eficiência tem sido evidente na agropecuária. Desde o começo dos anos 90 a produção das lavouras tem aumentado bem mais que a área plantada. No caso da produção animal, já nos anos 80 os efeitos da modernização se tornaram visíveis. No fim dessa década, o frango já se havia tornado um alimento acessível à maior parte da população e a exportação de aves crescia rapidamente. No campo, a capacidade produtiva aumentou não só pela acumulação de recursos, mas também, e em proporção notável, pela mudança qualitativa: a pesquisa permitiu avanços tecnológicos na maior parte das atividades e, além disso, houve inovações nas formas de trabalho.
Na indústria manufatureira, a produtividade tem crescido há algum tempo em torno de 3,5% ao ano. Esse padrão se repetiu no primeiro semestre de 2008, segundo números processados pelo Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi). De janeiro a junho, a produção manufatureira foi 6,3% maior que a de um ano antes. No caso das horas pagas, a diferença foi de apenas 2,7%.
Também na indústria os ganhos de eficiência foram derivados tanto da ampliação e da modernização do parque produtivo quanto da reforma e da racionalização de processos. A abertura da economia forçou essas transformações. Expôs a indústria brasileira a uma dura concorrência estrangeira no mercado interno, agravada, nos últimos anos, pela valorização cambial. No caso das indústrias já envolvidas na exportação, o esforço tem sido orientado para não perder espaço - ou não perder muito - nos mercados conquistados nos últimos anos.
Novos ganhos de eficiência, no entanto, dependerão de mais investimentos em máquinas, equipamentos, instalações e tecnologia - sem falar, naturalmente, da mobilização de talentos e de competências. A contabilidade convencional nem sequer inclui no cálculo do investimento a formação de capital humano. Se incluísse, a taxa de investimento no Brasil ficaria acima de 18,5% do PIB, mas a diferença entre o novo número e aquele necessário a um país competitivo seria, com certeza, muito mais ampla.
Quando se trata de competir - e não há como pensar outra forma de crescimento numa economia aberta -, não basta confiar nas estatísticas oficiais de alfabetização. Trabalhadores apenas capazes de assinar o nome dependerão cada vez mais da ajuda governamental para sobreviver. Não servem para uma indústria moderna nem para uma agropecuária baseada no uso de máquinas e de insumos sofisticados. Criar condições para a formação desse capital humano é um desafio de evidente importância para o governo. Esse desafio não será superado com a multiplicação de universidades públicas - uma estranha prioridade da administração federal.
Mas a política é deficiente também no caso da formação de capital físico. O investimento produtivo tem dependido quase exclusivamente do setor empresarial, e os empresários, para investir, são obrigados a pagar impostos pesados. Isso poderia mudar com a reforma tributária. Mas o primeiro projeto enviado ao Congresso pelo atual governo, há vários anos, esvaziou-se e sua tramitação nunca se completou. O novo projeto avança lentamente no Congresso e pode acabar desfigurado, por pressão de governadores, se a administração federal continuar incapaz de defendê-lo e de orientar sua tramitação.
Os investimentos na infra-estrutura continuam quase tão emperrados quanto nos últimos anos. Dos R$ 18 bilhões orçados para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), neste ano, R$ 8,5 bilhões foram empenhados até 29 de agosto e R$ 6,8 bilhões foram desembolsados, mas isso inclui R$ 5,6 bilhões de restos a pagar do ano passado. Política de crescimento é isso?
*Rolf Kuntz é jornalista