Ano novo, real fraco, de novo - VINICIUS TORRES FREIRE
Política

Ano novo, real fraco, de novo - VINICIUS TORRES FREIRE



FOLHA DE SP - 03/01

Mercado deu o tom do que será o câmbio; governo tem de ser hábil para evitar acidentes com o dólar


DÓLAR A R$ 2,40 foi um aperitivo forte demais para o início de 2014, mas esse vai ser um dos sabores do ano. Resta saber qual vai ser a dose da desvalorização.

A sacudida de ontem no mercado foi praticamente mais da mesma novela a que assistimos em 2013, com a novidade ainda pouquíssimo testada do novo modelo de intervenção do Banco Central do Brasil. Em princípio e em tese, o BC vai deixar o mercado mais solto, vendendo menos dólares.

No mais, a pressão pela desvalorização veio toda de fora. Houve noticiazinhas de melhorias na economia americana. Nada muito preciso ou definitivo, mas dados positivos sobre pedidos de seguro-desemprego e indústria insuflaram ainda mais o otimismo que vem desde dezembro.

Muita gente começa a chutar, mais ou menos informadamente, que o crescimento americano vai dobrar em 2014, podendo chegar mesmo a excepcionais 4% (no ano passado, o PIB dos Estados Unidos deve ter crescido um pouco menos que 2%).

Bom crescimento e desemprego em baixa vão fazer com que o banco central deles, o Fed, reduza gradativamente o despejo de dinheiro na economia, injeção de estímulo que poderia então terminar ainda neste 2014.

Com menos dinheiro na praça, os juros de mercado de papéis privados e públicos continuarão a subir, provavelmente menos que em 2013, mas subirão. Juros em alta e economia acelerada nos Estados Unidos tirarão dinheiro (dólar) do resto do mundo, Brasil inclusive, ou em especial.

Desde o final de 2013, os juros de mercado dos títulos da dívida americana de dez anos estão flutuando em torno de 3% ao ano. No início de 2013, estavam abaixo de 1,8%. Há chutes informados de que não devem passar de 3,5% em 2014.

Desde maio do ano passado, o preço do dólar no Brasil acompanha os movimentos dos juros de longo prazo nos Estados Unidos.

Tal associação ficou estremecida a partir do final de agosto, quando o Banco Central do Brasil passou a intervir no mercado. Mas a fonte de pressão estava lá, implícita. Em tese, dadas as perspectivas para os juros nos Estados Unidos, a pressão sobre o dólar no Brasil seria menor este ano.

Com um Banco Central mais comedido, vendendo menos dólares, vamos descobrir qual é a cotação mais "realista" da moeda norte-americana. Mas, obviamente, não vão ser apenas a política monetária e as reações do mercado americano que vão definir a taxa de câmbio do Brasil.

Caso o governo venha a fazer mais bobagem na área fiscal (gastos), o caldo vai azedar. Se a inflação ficar mal comportada, o caldo vai azedar mais um tanto. Se o nosso comércio exterior não reagir mesmo com a melhora da economia mundial e um real mais desvalorizado, o caldo vai azedar outro tantinho.

Enfim, o Banco Central pode mudar de ideia a respeito do tamanho das intervenções necessárias. Pode deixar o barco correr, desde que as variações do dólar não sejam muito violentas. Pode, porém, considerar que tal ou qual preço do dólar seja o ideal para tal e qual altura do ano, "tabelamento" necessário para evitar uma alta ainda maior da inflação.



loading...

- Ainda Tem Muito Jogo Nos Eua - Vinicius Torres Freire
 FOLHA DE SP - 19/12 Começo do fim do estímulo monetário por ora nem de longe reduz incertezas e risco de tumulto O GOVERNO estava "extremamente preparado" para a mudança da política econômica americana (palavras de Dilma Rousseff). O...

- Mais Um Sinal De Esgotamento - Luiz Carlos MendonÇa De Barros
FOLHA DE SP - 26/07 Um mercado de trabalho mais acomodado deve ajudar o Banco Central a combater a inflação Os dados sobre o emprego formal divulgados nesta semana reforçam o quadro de esgotamento do modelo de crescimento do governo Lula, que...

- Começo Da Recuperação - Miriam LeitÃo
O GLOBO - 12/10 O número positivo de 0,98% no índice de atividade do Banco Central mostra que chegou ao fim o atual vale da economia brasileira. Ela começa a se recuperar e isso deve continuar nos próximos meses. Será a reação tardia a um conjunto...

- Deu Tudo Certo E Errado Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 23/09/11 Real se desvaloriza, mundo rico cresce cada vez menos, desemprego é muito baixo no Brasil; mas isso é bom? O GOVERNO queria desvalorizar o real. Por vias tortas e diretas, o preço do dólar sobe, como queriam os economistas de...

- Celso Ming -pressão Sobre A China
O Estado de S. Paulo - 12/02/2010 O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, avisou ontem que vai ter uma negociação dura com o governo da China para arrancar uma valorização de sua moeda, o yuan: "Meu objetivo neste ano é o de levar a...



Política








.