O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nas próximas terça e quarta-feira para decidir o que fazer com os juros básicos (Selic) que, desde o dia 20 de abril, estão nos 12% ao ano (veja o Confira).
Bom número de sinais emitidos nas duas últimas semanas sugere que a inflação perdeu virulência. Também dá para identificar certa desaceleração da atividade econômica. Ao mesmo tempo, não há informações relevantes de que a economia global esteja exportando alta de preços para o Brasil. Ao contrário, a atividade econômica dos países ricos está mais para paradeira do que para superação da crise.
As apostas dos observadores são de que o Banco Central continuará com sua política de aperto monetário, aplicando, dessa vez, mais um reforço de 0,25 ponto porcentual. Reforçam essa tendência dois fatores. O primeiro deles é a indicação do Banco Central emitida na última ata do Copom e não revista desde então. Lá ficou reconhecido que "prevalece o nível de incerteza acima do usual" e que existem "riscos à concretização de um cenário em que a inflação convirja tempestivamente para o valor central da meta". Foi por isso que passou o recado de que "o ajuste total da taxa básica de juros deve ser (...) suficientemente prolongado". Esta paisagem não mudou significativamente em apenas 39 dias. Ou seja, desse ponto de vista, o aperto deve continuar.
O segundo fator é o de que persistem sinais de aumento do consumo acima dos níveis desejados. O mercado de trabalho, por exemplo, continua fortemente aquecido. A escassez de mão de obra minimamente qualificada se espalha por quase todos os setores da economia.
Também preocupa a concentração de negociações de reajustes de salário em importantes categorias profissionais (metalúrgicos, bancários, petroleiros e petroquímicos), que coincide com o registro de uma inflação em 12 meses provavelmente em torno dos 7%, ou acima da meta expandida (de 6,5%). Também persistem problemas no crédito. Ele tem crescido a mais de 20% ao ano, acima dos patamares buscados pelas autoridades, de uma elevação não maior do que 13% a 15% ao ano.
Nas últimas quatro semanas, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, vem insistindo em apontar os efeitos inflacionários da atual safra de entrada de capitais. Para ele, a forte retomada de empréstimos externos aumenta a disponibilidade indesejada de crédito. Como a economia dos Estados Unidos não reage e o desemprego vem aumentando, não se pode esperar que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) trate agora de enxugar a enorme liquidez que prevalece nos mercados. Ou seja, continua grande a probabilidade de que se mantenha o forte afluxo de moeda estrangeira no Brasil e de seu impacto sobre o avanço do crédito.
Houve quem apostasse em queda importante nas cotações das commodities e que, em consequência disso, os preços internos enfrentariam novas forças de retração. Mas não é essa a tendência. A propósito disso, na última sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu que o risco de nova estocada dos preços das commodities continua alto.
Para esse conjunto de fatores, que atua contra a redução de preços, o Banco Central terá de dar resposta firme.
O próximo afrouxamento
Neste mês, o Federal Reserve completa a operação de despejo de mais US$ 600 bilhões por meio da recompra de títulos do Tesouro dos Estados Unidos. A emissão de moeda foi justificada como necessária para reativar o emprego. Como o objetivo não foi alcançado, os analistas especulam sobre nova rodada de afrouxamento quantitativo, desta vez com uma nova explicação: criar demanda para os títulos do Tesouro americano.