Apesar da falácia marqueteira do mercado, dados de junho indicam recessão comprida e regressão do trabalho nos EUA |
A RENDA POR CABEÇA em bancões americanos em 2009 pode ser semelhante ou maior que a do recorde de 2007, diz reportagem do "Wall Street Journal". De modo algo sarcástico, mas não muito, pode se dizer que talvez esteja aí a explicação para os sustinho de hoje dos mercados financeiros com o mau resultado do emprego nos EUA em junho. Desde março, abril, os povos dos mercados esparramam pela mídia financeira, na americana e britânica em especial, que vivíamos a primavera dos "brotos verdes" na economia, clichê que sucedeu o do "fundo do poço". Mas "vivíamos" quem, cara pálida (ou "brancos de olhos azuis", no dizer de Lula)? O pessoal do mercado que não perdeu o emprego de fato voltara a fazer dinheiro depois que o governo americano: a) Avisou definitivamente em março, abril, que não haveria mais quebras na grande finança; b) Que não estatizaria mais ninguém; c) Que permitiria maquiagem de balanços financeiros; d) Que continuaria o jorro do dinheiro público americano para financiar e garantir a circulação de títulos privados; e) Que, com o apoio de alguns países do G20, haveria dinheiro bastante para evitar a quebra de países na periferia do capital, como no Leste Europeu, poupando assim bancos europeus de novos rombos pesados. Assim, no segundo trimestre o povo encheu a burra de dinheiro, mandando até algum para cá, valorizando o real, inflando a Bovespa e as commodities. Em suma, "o pior passara". Para o povo da finança. No mercado de trabalho americano, a situação continua horrível. Porém, ironicamente, apesar do sustinho estereotipado do mercado, segue despiorando, muito lentamente. Os pedidos iniciais de seguro-desemprego nos EUA atingiram o pico no início de abril (pela média móvel de quatro meses). Mas, como avisava o Nobel Paul Krugman, o trabalhador ainda vai sofrer por um bom tempo. Os ditos analistas de mercado, porém, faziam festa com esse dado do "pico" de abril. Diziam, com base numa inferência estatística meio porca, que a economia costuma chegar ao fundo do poço de 4 a 10 semanas depois do cume dos dados do seguro-desemprego. Bem, já se passaram 13 semanas desde então. Estatísticas menos fantasistas mostram que todos os empregos criados desde a última recessão, que terminou em 2001, ora foram para o brejo. A recuperação do emprego nessa crise (governo Bush) havia sido a pior desde a Segunda Guerra (isto é, o mercado de trabalho ficou muito enxuto nesse período). O número médio de horas trabalhadas por semana é o pior desde 1964 (o início dessa série de medições). A duração do desemprego "oficial" é a maior desde 1948. Tudo isso aponta para uma grande relutância das empresas em contratar e investir. O desemprego "oficial" é agora de 9,5% (há outras medidas: está em 16,5% a taxa que inclui desalento e trabalhadores em tempo parcial que queriam trabalhar em horário integral). A taxa de desemprego nos EUA e Europa agora é a mesma. Os números do emprego nos EUA são muito criticados e voláteis. Mas, se o dado de junho está certo, o consumo não deve se recuperar tão cedo, pois a população ainda está endividada, mais pobre e tem de recompor a poupança perdida na crise. |