as 1001 maneiras de cozinhar comunistas
Política

as 1001 maneiras de cozinhar comunistas


“Não pensamos que a sociedade esteja dividida entre bons e maus. A divisão não é essa. Dividimos o mundo, fundamentalmente, entre classes, entre exploradores e explorados. Uns que vivem do trabalho dos outros e outros que trabalham para que outros vivam”
(Álvaro Cunhal, 1976)

A história do movimento operário português está longe de se esgotar no “cunhalismo”, desde a formação do proletariado (1860-1910) à experiência anarquista na república (1910-1926), e à resistência anti-fascista (1926-1940), até ao movimento de apoio dos comunistas ao governo de Salazar, caso a soberania nacional viesse a estar ameaçada (Bento Gonçalves) e ao respectivo declínio da luta contra a ditadura quando o comité central se reduziu a cinco elementos (1940-1955). Álvaro Cunhal chega com a nova estrutura do proletariado no pós-guerra e com a degeneração revisionista do Partido da classe operária (1955-1966). É neste ponto que existe uma ruptura com a tradição bolchevique da independência da classe dos trabalhadores em relação à pequena e média burguesia. No contexto do conflito Sino-Soviético existe também em Portugal um cisma que divide o PCP. Depois de 1956 a corrente politica pró-Maoista começa a questionar a linha do PCUS, e após o XX Congresso, nomeadamente a chamada coexistência pacífica entre classes sociais. A partir do 7º Congresso da Internacional Comunista em 1935 o búlgaro Georgi Dimitrov tinha proposto, tendo sido aprovada, a incorporação dos partidos comunistas a plataformas conjuntas com a social-democracia. Essa orientação interclassista rompe com o princípio leninista da independência de classe e marca o inevitável declínio do movimento revolucionário – a nefasta “Frente Única” que falhou primeiro em França e teve o seu primeiro ensaio de força na guerra civil de Espanha

Em ruptura com o PCP o militante dissidente comunista Francisco Martins Rodrigues funda o primeiro partido maoista em Portugal em 1964 contra a teoria cunhalista do 'levantamento nacional', defendendo a independência de classe na luta contra a ditadura. A ruptura com o Partido Comunista Português veio ainda antecedida de discrepâncias com a linha do partido face à guerra colonial. Propunha-se então a insurreição popular armada como via para a oposição à política colonial da ditadura portuguesa, em apoio aos povos africanos que enfrentavam o colonialismo português”. De regresso Martins Rodrigues é preso quando desencadeava acções contra a Nato a cujas estruturas Salazar sonegava equipamento militar para prosseguir o esforço de guerra.

Por contraste, Carlos Brito conhece Álvaro Cunhal em Paris em Outubro de 1966, depois de sair da prisão de Peniche e “é enviado com toda a rapidez para Moscovo para frequentar um curso politico para estrangeiros” (pag 24). É a história enaltecedora da amizade entre estes dois homens que Carlos Brito vem agora contar em livro, oportunamente a ser lançado com a presença do candidato “reformista” Manuel Alegre - ou seja, mais um sapo a engolir pelos comunistas na longa lista que já levam no pós 25 de Abril, precisamente numa altura de crise em que cresce a adesão dos trabalhadores ao movimento comunista independentemente da orientação das direcções partidárias.

Está vista a razão porque só agora, cinco anos precisos após a morte de Cunhal, o “renovador” ex-pró-URSS revisionista Carlos Brito vem fazer a elegia do mestre. Citando do livro subtitulado o último dos “sete fôlegos do combatente”, os “sobressaltos ideológicos e viragens tácticas”... fizeram do partido o mais fiel colaborador do regime. Comentando o regresso de Cunhal à direcção em 1999 para corrigir desvios diz-se que foi “imposta a férrea obediência da ortodoxia conservadora”. Invertendo os papéis, os “novos reformadoresé que são “revolucionários – mas que dizer do autor e da estrutura monolítica de um partido que conserva Carlos Brito como porta-voz do grupo parlamentar durante 15 anos a fio? E de Carlos Carvalhas, o cinzento Secretário-Geral que exerceu o cargo durante 12 anos, desde 1992 à data de resignação em 2004, e é referido como “tímido e hesitante na sua simpatia pela renovação” (pag. 16).



Depois do 25 de Abril o PCP instituiu-se como uma conceituada escola de reformistas para abastecimento ideológico da burguesia. A lista de dissidentes é imensa e os serviços prestados “ao grande capital” (usando a expressão de Vital Moreira) são inestimáveis.

Basta a qualquer um apresentar o diploma de frequência no PCP para que todas as portas das secretarias e ministérios lhes sejam franqueadas. E a completar o quadro a imprensa cor de rosa-e-laranja alimenta-se dos escritos de tão conceituados autores para diversão dos leitores compulsivos de embustes. Como “peixes na água” das nuances de cada partido operário, dos revisionistas de sempre chegam-nos ainda ecos da Conferência dos Partidos Comunistas e Operários da Europa realizada em Praga em 1967: “a ditadura fascista utiliza a violência para se manter no Poder, por isso só pela violência pode ser derrubada” (da tese apresentada pelo PCP, pag.26). Não vale o esforço de ir mais longe no “Rumo à Vitória" (pag. 83). Decididamente o discurso nunca coincidiu com a prática
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