As pedras de Graça Foster - Suely Caldas Estadão
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As pedras de Graça Foster - Suely Caldas Estadão


"Não fica pedra sobre pedra", prometeu a presidente da Petrobrás, Graça Foster, em entrevista ao jornal O Globo, referindo-se às investigações sobre a desastrada compra da Refinaria de Pasadena, no Texas, por ela autorizadas com atraso de dois anos e sob pressão da opinião pública. Pasadena não foi o único negócio suspeito da área Internacional que Graça encontrou quando decidiu acumular a diretoria Internacional com a presidência da Petrobrás. Há outros, e ela sabe disso melhor do que ninguém. Por que, então, ela não removeu as pedras ruins em outros casos que apurou, até sem pressão alguma?
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Um deles foi o contrato de US$ 825,6 milhões com a empreiteira baiana Odebrecht para realizar serviços nas áreas de segurança e meio ambiente em dez países onde a Petrobrás tem negócios, inclusive na Refinaria de Pasadena. O contrato foi fechado em 2010, quando o também baiano José Sérgio Gabrielli presidia a estatal e o diretor da área Internacional era Jorge Zelada, da cota do PMDB no loteamento partidário da diretoria feito pelo ex-presidente Lula. Ali Graça Foster e o Tribunal de Contas da União encontraram nada menos que 8.800 itens com suspeita de fraudes. Na Argentina, por exemplo, a Petrobrás pagou R$ 7,2 milhões pelo aluguel de três máquinas de fotocópia e R$ 3,2 milhões pelo aluguel de um terreno que era próprio. Nos EUA, o salário de um pedreiro custava R$ 22 mil/mês.
Pois bem, Graça determinou auditoria nas contas, cortou R$ 344 milhões em gastos irregulares e reduziu pela metade o custo do contrato com a Odebrecht. Mas as pedras continuam lá. Nenhuma foi removida, como ela promete agora com Pasadena. O contrato não foi cancelado, não foram identificados os responsáveis nem há notícias de punições. Neste caso, a expressão indignada "não fica pedra sobre pedra" perdeu-se no vento.
Além de Pasadena, o negócio com a Odebrecht é mais um caso para a CPI (se for criada) investigar. Mas há outros na fila, entre eles o suborno (US$ 139,2 milhões) pago pela empresa holandesa SBM Offshore a funcionários da Petrobrás pelo aluguel de plataformas e diversas operações de superfaturamento na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que começou as obras com orçamento de R$ 2,3 bilhões e hoje a estimativa de custo saltou nove vezes, para R$ 20 bilhões.
Na Holanda, a própria SBM Offshore tomou a iniciativa de investigar a denúncia de suborno feita por um funcionário da empresa. Investigou, divulgou para a imprensa e demitiu os funcionários envolvidos. No Brasil, a Petrobrás, quando apura, esconde o resultado da apuração, não divulga e ninguém sabe se há ou não punição, embora seja uma empresa pública que deve explicações aos brasileiros.
No episódio de Pasadena, todo o tempo a direção da estatal tratou o negócio como lícito e correto, apesar de reiteradas denúncias feitas pela imprensa há mais de dois anos. Graça Foster até foi ao Congresso defender a operação. Só agora, com a repercussão negativa da explicação dada pela presidente Dilma Rousseff para aprovar a venda, denunciando como "falho e incompleto" o relatório do diretor Internacional Nestor Cerveró, a presidente da Petrobrás decidiu criar comissão para investigar.
Até o momento nem Graça Foster nem Gabrielli conseguiram explicar por que em todos os detalhes do contrato de venda de Pasadena a belga Astra Oil foi contemplada com generosas vantagens e para a Petrobrás sobraram só carne de pescoço e contas a pagar. Sobre o caso, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, declarou: "É um dever nosso esclarecer, colocar as coisas no devido lugar". E por que não fizeram até agora? Dos responsáveis diretos pela operação, um diretor foi demitido e outro foi parar na cadeia, acusado de corrupção. Nem assim o governo Dilma e a Petrobrás vêm a público dar explicações à população.
Em seus 60 anos, a Petrobrás nunca foi tão humilhada, tão insultada. E na raiz disso tudo está o loteamento de cargos entre partidos políticos, incentivado por Lula e que consolidou a prática de o diretor assumir com a meta de faturar determinado valor para o partido que o colocou no cargo.
*É jornalista e professora da PUC-Rio. E-mail: [email protected]





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