O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli deve comparecer hoje à CPI mista, do Senado e da Câmara, instituída para investigar estranhos e bilionários negócios fechados pela estatal em sua gestão. E sempre com vultosos prejuízos para a estatal. Por decorrência, para o Erário, pois, em última instância, as perdas prejudicam proporcionalmente mais o maior acionista da empresa, o Tesouro, destino dos pesados impostos cobrados no país.
Se a CPI chapa-branca, instalada no Senado, por suposto nada investiga, afinal foi criada para isso, espera-se que ao menos um ou outro parlamentar da comissão mista, sobre a qual o controle do Planalto parece ser menor, exponha Gabrielli a algumas questões mal explicadas. Assuntos não faltam. Se sobre a aquisição da refinaria em Pasadena, Texas, a que Dilma Rousseff não aprovaria, foi montado o script do mau negócio que se transforma em bom com o passar do tempo — embora a presidente Graça Foster tenha confirmado um prejuízo de meio bilhão de dólares já assumido pela empresa —, para a explosão do orçamento da refinaria Abreu e Lima ainda não há um enredo oficial concatenado.
Não será fácil. Em resposta a reportagens do GLOBO, a Petrobras insiste que pareceres do Tribunal de Contas das União (TCU) atestando superfaturamento em vários contratos se devem a diferenças "metodológicas" na mensuração de gastos em projetos de refinaria. Além disso, nega que a primeira estimativa dos investimentos em Abreu e Lima tenha sido de US$ 2,3 bilhões, mas de US$ 13,4 bilhões. Mesmo assim, o orçamento do projeto terá estourado quase 40% em relação aos US$ 18,5 bilhões gastos até abril. E chegará a 50% quando os investimentos atingirem os previstos US$ 20,1 bilhões na conclusão da refinaria.
Há sempre fatos esquisitos nesses projetos de aumentos bilionários de custo. No caso Pasadena, existe o "resumo executivo" de que não constavam cláusulas do negócio os quais, confessou a própria presidente Dilma, a fariam rejeitar a compra, quando estava à frente do conselho administrativo da estatal. Na refinaria Abreu e Lima, estranha-se que mesmo segura da correção do projeto, a diretoria de Gabrielli tenha tentado, durante algum tempo, sonegar informações ao TCU.
Revelou o jornal ontem que o tribunal passou a auditar a obra a partir de 2008, e, quando encontrava algum erro ou indício de superfaturamento, não era atendido quando pedia esclarecimentos à estatal. "Sigilo", justifica-se quase sempre a empresa. Os estudos de viabilidade, esses eram ainda mais sigilosos.
Abreu e Lima, símbolo das aliança do lulopetismo com o chavismo, é um enorme ponto de interrogação em forma de refinaria. Mesmo abstraindo-se o fato de o responsável pela execução do projeto durante um um razoável período ter sido o ex-diretor Paulo Roberto Costa, preso em Curitiba a pedido da Polícia Federal, por participar de um grande esquema de lavagem de dinheiro.