A revelação não chega a surpreender observadores que possuem espírito crítico e não se deixam enganar pelas falsas aparências transmitidas na telinha e nos poderosos meios de comunicação monopolizados por uma meia dúzia de famílias capitalistas.
Mentiras grosseiras
William Waack, que gosta de se apresentar como intelectual sereno e sábio no programa Globo News Painel, onde costuma atravessar o samba dos entrevistados, é um raivoso anticomunista. Chegou a escrever um livro (intitulado “Camaradas”) carregado de insultos e calúnias contra Luiz Carlos Prestes, líder da Coluna Prestes.
No texto, com muita empáfia, conforme notou João Quartim de Morais, professor de filosofia da Unicamp e autor de preciosos estudos sobre a história brasileira, “Waack pretende confirmar, em versão civilizada e expurgada das mentiras grosseiras incorporadas pela polícia do Estado Novo à ´história oficial´ da ´Intentona´, a principal acusação contra Prestes e seus camaradas: a de que agiram por ordem e a serviço de Moscou. Talvez sua pretensão de abalar mitos e carreiras tenha se alimentado mais do caráter probatório dos documentos que exibe do que da descoberta de algum fato substancial”.
Quartim de Morais escreveu um artigo desmascarando as mentiras e contradições a que o funcionário da família Marinha é conduzido pelo ódio anticomunista, onde conclui: “Custa-nos ser indelicados, mas se comprarmos o livro de Waack pelo que ele vale e lograrmos vendê-lo pelo que ele apregoa que vale, faremos um excelente negócio”.
Comentários apimentados
Waack passou a ser alvo de comentários apimentados nas redes sociais após a publicação dos documentos que o identificam como um informante da Casa Branca com forte influência política no Brasil.
O site de notícias "JB online" confirmou parte das versões com a jornalista Natalia Viana, que é responsável pelo espaço da Wikileaks no Brasil. Segundo a repórter investigativa, Waack chega a ser citado por três vezes como informante da Casa Branca. Dois dos documentos em que constam o nome do jornalista global foram considerados como "confidenciais".
Casamento ideológico
Em uma das passagens, é relatada a visita de um porta-aviões dos Estados Unidos em maio de 2008. O documento emitido informa que a Embaixada Americana havia classificado a repercussão do evento na mídia como "positiva", e cita diretamente o nome de William Waack como tendo ajudado a evidenciar o lado positivo que existe nas relações entre o Brasil e os Estados Unidos durante suas reportagens para o jornal "O Globo". Não é de admirar o casamento ideológico e a fusão de interesses entre o jornalista e o imperialismo. Resta saber quanto ele recebeu pelos bons serviços prestados ao império.
Em um segundo documento, as eleições presidenciais de 2011 são o destaque. No caso, em fevereiro de 2010 o âncora da Globo teria informado aos norte-americanos que, após um fórum econômico em São Paulo, havia tido a impressão de que Ciro Gomes era o mais preparado entre os candidatos, José Serra era "claramente competente" enquanto Dilma teria sido vista como incoerente.
Confundindo desejo e realidade
O terceiro documento apresentado teria registrado um erro de previsão feita por Waack. Nele constaria que em agosto de 2009, o jornalista manteve contatos com funcionários da Casa Branca, aos quais teria apontado que Serra e Aécio Neves tinham concordado em apresentar uma candidatura para presidente e vice, respectivamente. O fato não aconteceu. O jornalista, muito chegado a manipulações, confundiu seus desejos tucanos com a realidade. Na época, Aécio chegou a tentar concorrer como presidente pelo PSDB, mas terminou como candidato ao Senado por Minas Gerais e deixou o Zé Serra caminhar para o cadafalso sozinho.
Em uma publicação de outubro de 2010, pela coluna Wikileaks, Natalia Viana já havia escrito sobre as informações de Waack consideradas pela inteligência dos Estados Unidos. No texto, a repórter afirma que a conselheira Lisa Kubiske alertava o governo norte-americano sobre as tendências no Brasil a partir de análises de jornalistas brasileiros.
Rodrigues, da Folha: confidente da Casa Branca
Nos documentos vazados pelo Wikileaks, o jornalista Fernando Rodrigues, colunista da Folha de S. Paulo, também aparece como informante, em encontro na embaixada dos EUA. Rodrigues, outro direitista de marca maior, evitou comentar a denúncia no site que mantém no Uol, onde por coincidência postou nesta sexta (28) apenas uma entrevista com o embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, em que o diplomata estadunidense critica o Wikileaks por estar revelando informações embaraçosas para Washington e seus testas de ferro pelo mundo.
Numa conversa de 2006, Rodrigues teve um encontro com representantes da embaixada americana, e disse entre as quatro paredes que o TCU (Tribunal de Contas da União) era aparelhado politicamente pelos demo-tucanos e tinha relatórios feitos para usar como batalha partidária da oposição contra o governo.
Disse que o tribunal faz análises não confiáveis e seus noves ministros são geralmente ex-senadores ou ex-deputados escolhidos por seus colegas para atuarem partidariamente. Rodrigues citou nominalmente o ministro Aroldo Cedraz, a quem classificou como “carlista” – ligado ao finado Antonio Carlos Magalhães.
De acordo com os documentos, Rodrigues também fazia análises políticas para a embaixada americana e avaliou o cenário da Câmara em 2006, que teve como oponentes Arlindo Chinaglia, do PT, e Aldo Rebelo, do PCdoB. Rodrigues disse que, se Aldo perdesse, ganharia com
Diogo Mainardi
Outro jornalista citado pelo Wikileaks é ex-colunista da Veja, hoje comentarista do programa Manhattan Connection, da Globo News, Diogo Mainardi, uma figura bizarra e medíocre que morre de amores pelo império e vive a vomitar bobagens anticomunistas, aparece antecipando informações de sua coluna para os americanos num "almoço reservado". Ele também andou exercendo as funções de guarda costas do controvertido banqueiro Daniel Dantas.
Waack, Rodrigues e Mainardi são três exemplares típicos da mídia que o jornalista Paulo Henrique Amorim apelidou com muita propriedade de Partido da Imprensa Golpista (PIB). Em seus textos e comentários destilam a ideologia reacionária e tacanha da direita brasileira, antinacional, antipopular e vassala do império. As relações entre o PIG e a CIA, sugeridas pelo Wikileaks, não chegam a ser surpreendentes, mas contribuem para elucidar o verdadeiro caráter dos monopólios midiáticos e evidenciar a subserviência da direita brasileira em relação a Washington. São relações inegavelmente perigosas para os interesses nacionais, que devem ser reveladas, denunciadas e combatidas.
Cobrança
Embora o jornalista Fernando Rodrigues tenha evitado abordar a embaraçosa revelação do Wikileaks, leitores e leitoras de seu blog na Uol não pouparam comentários bem humorados, mas críticos, que oVermelho reproduz abaixo.