Mas, mesmo assim, o BC, na reunião desta semana do Conselho de
Política Monetária (Copom), por cinco votos a dois, optou por um
aumento da taxa básica de juros (Selic) de apenas 0,25 ponto
percentual, para 12%, depois de duas remarcações sucessivas de 0,5
ponto. Aumentam, portanto, as dúvidas quanto à profissão de fé do
presidente do BC, Alexandre Tombini, no combate duro à inflação, feita
no fim do ano passado ao ser escolhido para o cargo. Pior, firma-se o
entendimento de que o BC no governo Dilma Rousseff funciona como linha
auxiliar do "desenvolvimentismo" encastelado no Ministério da Fazenda,
pregador da perigosa tese de que um "pouco mais" de inflação é
justificável, se permitir um crescimento econômico mais acelerado. A
tese é ilusória porque a própria inflação abortará mais tarde a
decolagem da economia.
O BC tem sido, ainda, desastroso na comunicação com o mercado. Na
sexta-feira passada, Tombini, em Washington, para onde fora participar
de reuniões no FMI, alertou que o país "está no meio de um ciclo de
aperto monetário", e chamou a atenção para os cuidados necessários
diante do excesso de liquidez, capaz de pôr em risco a estabilidade
financeira do país.
Parecia uma reciclagem do sentido do texto do relatório trimestral de
inflação, em que o BC expôs a defesa de um enfrentamento light do
descontrole de preços, música melodiosa aos ouvidos
"desenvolvimentistas". Em troca, continuariam a ser manejados os
instrumentos "macroprudenciais" de aperto no crédito. Que devem mesmo
ser acionados, mas numa conjugação com políticas monetária (juros) e
fiscal (gastos) mais ativas. A atenuação na alta dos juros, decretada
quarta-feira, indica que as entrevistas dadas em Washington pelo
presidente do BC não significavam a antecipação de qualquer maior
vigor na luta contra a inflação. Eram apenas ruídos na comunicação do
BC.
O texto do comunicado sobre a decisão do Copom tenta justificar a
moderação - pelo menos com a correta discordância de dois diretores do
BC - com a execução de um plano de ataque ao descontrole de preços de
mais longo prazo, uma reafirmação da arriscada ideia de trazer a
inflação ao centro da meta (4,5%) apenas no fim do ano que vem.
Será possível? Há sérias dúvidas. Uma delas é que se despreza o efeito
pernicioso dos mecanismos de indexação que persistem na economia
brasileira, e estimulados, por exemplo, quando se estabelece uma regra
fixa para o reajuste do salário mínimo. Este, por sinal, sério
problema em contagem regressiva para o ano que vem, quando o SM deverá
ter um reajuste na faixa dos 14%, mais um aperto no acelerador da
inflação.
Há, ainda, a questão do preço de combustíveis, com a gasolina sendo
subsidiada - hoje, pela Petrobras; amanhã, talvez pelo Tesouro, via
redução da Cide. Tudo somado, resulta que a sociedade corre o risco de
ter de conviver com uma inflação engessada num patamar mais elevado
que os 4,5% da meta, por sua vez já acima da inflação no mundo.