"Macroprudencial", essa palavra horrenda, foi o jargão econômico da
coleção de verão 2010-2011.
A expressão causou ainda mais sensação logo após a Quarta-Feira de
Cinzas, quando saiu a ata do Comitê de Política Monetária do Banco
Central, em que se lia que uma nova rodada de "macroprudenciais"
poderia evitar novas altas de juros.
Neste início de Quaresma, alimenta discussões na equipe econômica e
discretos arranca-rabos entre a direção do BC e economistas de bancos
e de consultorias. O debate deve durar até o Carnaval de 2012.
"Medidas macroprudenciais" são decisões do BC que afetam a oferta de
crédito e, assim, a taxa de juros para o tomador final. Em tese, tais
medidas têm como objetivo evitar que o sistema financeiro se exceda,
empreste demais a quem não tem como pagar. Mas, por reduzirem a oferta
de crédito, também contêm consumo e inflação.
Os economistas de Dilma Rousseff debatem se é preciso tomar medidas a
fim de conter a torrente de dólares que entra no Brasil, e não só
devido à valorização do real.
A torrente de dinheiro barato no mundo anima bancos e empresas
brasileiras a tomar empréstimos. Bancos ficam, pois, com mais dinheiro
para emprestar num momento em que a autoridade econômica quer
desacelerar a economia.
Além do mais, empresas podem ficar expostas demais a flutuações nas
taxas de câmbio e de juros. A partir de junho, começa a aumentar o
risco de que os juros subam nos EUA. Isto é, aumentam assim os riscos
de alterações maiores no fluxo de dinheiro, em sua intensidade e
direção. Variações no câmbio e nos juros sempre acabam pegando alguém
de calças-curtas (endividado demais, sem "seguros" e proteções, hedge,
contra variações no preço dos ativos financeiros etc.).
Enfim, novas medidas "macroprudenciais" continuam na cartucheira do
BC, munição possível contra a inflação, alternativa à alta ainda maior
da taxa básica de juros. O zum-zum-zum em Brasília é que, ainda neste
mês, poderiam ser baixadas mais "macroprudenciais".
Os economistas de bancos e consultorias, de certo modo porta-vozes do
"mercado", estão tiriricas com essa história de evitar altas dos juros
por meio de decisões administrativas do BC (as "medidas
macroprudenciais"): não é um método ortodoxo, convencional, não é um
método bem testado nem bem conhecido de contenção do ritmo da
atividade econômica e, pois, da inflação.
Ontem, houve uma das reuniões habituais entre BC e "mercado", nas
quais a autoridade monetária toma o pulso e checa o humor da praça,
ouve análises de conjuntura, discute tais opiniões e dá uma ou outra
dica sobre o que pretende fazer.
O BC pôde perceber o mau humor dos povos do mercado. Na prática, foi
mais ou menos inquirido a dizer com base em quais informações optou
por dar tanta importância às "macroprudenciais"; se não está tranquilo
demais com a inflação em alta e a economia ainda aquecida além da
conta (embora nem no mercado tal opinião seja unânime).
O pessoal do BC (o presidente, Alexandre Tombini, e três diretores)
fechou a cara, não deu satisfações e disse que estava lá mais para
ouvir.
Em suma, o "mercado" não gosta de novidade. Tende a gostar de juros
altos. E vai demorar até se saber se a nova linha do BC funciona.