Bolhas e pânicos - MIRIAM LEITÃO
Política

Bolhas e pânicos - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 16/04


O mundo está no sexto ano de dinheiro muito barato e muita expansão monetária. Isso dá as condições para um dia como o de ontem, em que dois dados negativos na economia, um da China e um dos Estados Unidos, e uma explosão em Boston fizeram com que tudo despencasse. O ouro teve a maior queda em 30 anos, as bolsas caíram, as commodities cederam no mundo inteiro.

Claramente não foram apenas dois indicadores econômicos que produziram o pessimismo. As bombas que explodiram numa das mais tradicionais maratonas do mundo, a de Boston, alimentaram o ambiente ruim, lembrando o risco sempre presente do terrorismo. Mas, determinante para o movimento forte de queda dos ativos é que um mundo com tanta liquidez é ambiente propício para altas e quedas dramáticas mesmo sem muita ligação com os fundamentos. Em uma palavra: especulação.

No Brasil, a bolsa caiu mais do que em outros países. Aqui, o Ibovespa cai quando caem as bolsas do mundo, mas não sobe tanto quando outros mercados sobem. Mesmo com a queda de ontem, várias bolsas estão com alta acumulada durante o ano. Algumas operam no vermelho, mas o nosso vermelho é maior do que o de vários outros.

Nesse contexto, o Banco Central vai começar a sua reunião para decidir a taxa de juros. Se o nível de atividade com números fracos e a inflação em alta já formavam um dilema para ao BC, maior será a dificuldade de tomar decisão com a
perspectiva de uma piora do quadro global.

O Brasil tem problemas específicos. Uma parte da queda da bolsa se deve ao grupo do empresário Eike Batista, que diariamente tem tido quedas fortes. 

Ontem, as ações da OGX acentuaram a queda no meio da tarde e fecharam com -12,9%. É mais um dia do mar vermelho que se fechou sobre as ações do grupo de Eike. 

Há muita dúvida sobre a condução da política econômica. Depois de erros sucessivos em várias áreas — excesso de estatismo, manipulações fiscais, baixo investimento — há pouca confiança na capacidade de o país crescer.

Na economia mundial, o que aconteceu ontem foi a divulgação de dados menores do que se esperava nos Estados Unidos e na China. Isso, somado à explosão, provocou fatos como a queda de 200 pontos no Dow Jones. Uma reação ao medo do terrorismo e uma revisão de preços de ativos diante de um cenário de recuperação econômica mais lenta. A queda do ouro já vinha de sexta-feira e é natural depois de alta exagerada durante longo tempo. O ouro em uma década teve seu valor multiplicado por sete vezes. Ele sobe quando há risco inflacionário. E ainda que pareça distante o risco inflacionário nas maiores economias do mundo, o fato é que uma temporada tão longa de liquidez alta pode acabar alimentando bolhas e inflação.

Tudo isso tornou mais difícil a decisão do Banco Central. No mercado, não há consenso sobre se o Banco Central vai subir juros esta semana, e, se subir, se será 0,25% ou 0,5%. A complicação de ontem pode ser o motivo que leve o BC a dizer que precisa cautela, adiando a decisão de elevar as taxas.



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