Após quebra de Lehman, mercado sofre maior recuo em pontos desde o 11 de Setembro e se aproxima do crash de 1987
Banco central americano faz maior injeção no sistema bancário desde os ataques terroristas de 2001, com empréstimos de US$ 70 bi
DA REDAÇÃO
A Bolsa de Nova York teve a sexta maior queda em pontos da sua história e a pior desde o 11 de Setembro, com os mercados nervosos após a confirmação do pedido de concordata do Lehman Brothers, da venda do Merrill Lynch e da tentativa da AIG de conseguir empréstimo para seguir funcionando, além do temor de que outras instituições possam quebrar.
O índice Dow Jones, o principal da Bolsa de Nova York, recuou 504,48 pontos, a sexta maior queda da sua história, ficando logo atrás do crash de 1987, também conhecido como a "segunda-feira negra" -naquela ocasião, a desvalorização foi de 508 pontos. A queda foi a maior em pontos desde 17 de setembro de 2001, quando os mercados reabriram após os ataques terroristas aos Estados Unidos. O índice, que fechou em 10.917,51 pontos, está no menor nível em mais de dois anos, desde julho de 2006.
Em termos percentuais, o Dow Jones caiu 4,42% -a maior baixa desde 19 de julho de 2002. A S&P 500 -mais ampla- se desvalorizou em 4,71% (a maior queda desde setembro de 2001), e a Nasdaq, 3,60%.
Com as ações das instituições financeiras tendo quedas expressivas, apenas a Coca-Cola teve um dia positivo entre as 30 empresas do Dow Jones. Os papéis da AIG foram os que mais caíram (60,79%), seguidos por Bank of America e Citigroup.
"O panorama mudou e vários dos que eram os principais jogadores já não são mais, então é claro que as pessoas entraram em pânico", disse ao site da CNN Stephen Leeb, presidente da Leeb Capital Management. "Mas isso não é o fim do capitalismo. Isso pode levar a algo pior do que temos visto em termos de economia, mas as companhias que sobreviveram ao final disso estarão o.k."
Para Stephen Wood, estrategista da Russell Investment Group, as quedas de ontem "foram realmente no coração do sistema financeiro". Segundo ele, "[ontem] será um daqueles dias que as pessoas vão dizer daqui a dez anos "você se lembra de onde estava?'".
Também ontem foram divulgados os dados de produção industrial, que caíram no mês passado, aumentando os temores com o restante da economia, além do setor financeiro. Em agosto, a produção industrial se contraiu em 1,1%, a maior queda desde a passagem do furacão Katrina, em 2005.
Lehman
Uma das principais notícias do dia foi a confirmação de que o Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimento dos EUA, entrou com o maior pedido de concordata da história em termos de ativos.
Depois dos fracassos no final da semana das negociações com Bank of America e Barclays e da recusa do governo em garantir as suas futuras perdas, o Lehman recorreu ao capítulo 11 da lei de falências dos EUA, em que a empresa pode continuar negociando e tem tempo para reorganizar seus ativos e tentar um recomeço. Mas, no caso do banco, ele parece rumar à liquidação.
O pedido do Lehman não inclui as operações de corretagem e unidades como a de gerenciamento de ativos. Esses setores continuarão funcionando, mas o banco está procurando compradores para elas. De acordo com o "Wall Street Journal", ele estava negociando com o próprio Barclays na noite de ontem a venda de "grande parte" dos seus ativos.
O secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, afirmou que "em nenhum momento considerou apropriado colocar dinheiro dos contribuintes" no Lehman. Segundo ele, a situação do banco é muito diferente do Bear Stearns, negociado para o JPMorgan, em operação bancada pelo governo.
Credores
No documento, o Lehman disse que tinha, no final de maio, ativos de US$ 639 bilhões e passivos de US$ 613 bilhões. Afirmou que o Citigroup é o seu maior credor, com US$ 138 bilhões em dívidas não seguradas, seguido pelo Bank of New York Mellon, com US$ 17 bilhões. O Citigroup, no entanto, afirmou que os títulos não fazem parte do seu balanço.
A SEC (a CVM americana) disse que seus funcionários ficarão nos escritórios do Lehman Brothers para supervisionar a "transferência ordenada" dos ativos das contas dos clientes de varejo para as corretoras que são garantidas pela SIPC (órgão que tem um fundo de reserva autorizado pelo Congresso para ajudar investidores de corretoras que faliram). A SIPC garante investimentos de até US$ 500 mil por cliente.
No Reino Unido, os administradores que assumiram o controle dos negócios do Lehman no país disseram que poderá levar anos para que os ativos do banco sejam liquidados e os investidores recebam o dinheiro.
BC dos EUA
Em um dos dias mais nervosos da história do mercado americano, o Fed (o BC dos Estados Unidos) fez a sua maior injeção de dinheiro no sistema bancário desde a época dos ataques terroristas de 2001, emprestando US$ 70 bilhões às instituições financeiras.
Na noite de anteontem, o banco central americano havia anunciado medidas que facilitavam o empréstimo para bancos de investimento. O Fed anunciou que passará a aceitar vários ativos como garantia para a ajuda emergencial.
Ainda anteontem, um grupo de dez grandes instituições anunciou a formação de um fundo de US$ 70 bilhões que bancos poderão recorrer caso sofram uma crise similar à do Lehman. Esse montante poderá crescer caso mais bancos decidam contribuir com o fundo.