Um perigoso equívoco
Em algumas raras ocasiões os líderes do mundo aceitam se sentar em torno de uma mesa para tomar uma decisão capaz de afetar indistintamente a vida de todos os habitantes do planeta. Foi assim com a Liga das Nações, o embrião da ONU criado dois anos depois da I Guerra Mundial com o objetivo de banir para sempre as hostilidades entre as potências europeias. Foi assim em Bretton Woods, em 1944, com a reunião intergovernamental, alimentada pelas melhores cabeças econômicas, que visava a dar fim aos cataclismos financeiros, depois do trauma da crise das bolsas de 1929. Está sendo assim na COP15, em Copenhague, onde 192 países se encontram reunidos para, com a ajuda de cientistas, tentar afastar o perigo de uma catástrofe climática global provocada pelo acúmulo na atmosfera de certos gases encapsuladores de calor, o que levaria, no cenário extremo, ao derretimento das calotas polares e à consequente inundação de imensas áreas litorâneas do planeta. Como a Liga das Nações e Bretton Woods, a COP15 pode estar fadada a ter sucesso apenas parcial, se tiver algum, e pouco duradouro. Uma reportagem da presente edição de VEJA mostra que entre as causas do previsível fracasso podem estar o diagnóstico equivocado do problema e as soluções derivadas da miopia original. Os sábios e líderes reunidos na Dinamarca estão sistematicamente ignorando a questão central, o risco mais claro e iminente para a saúde global, que são o excesso de gente sobre a face da Terra e o ritmo de crescimento populacional. Já passa dos 6 bilhões o número de habitantes do planeta. A população mundial chegará, em um cálculo comedido, a 9,2 bilhões de pessoas em 2050, a partir de quando tenderá a se estabilizar. A Terra estará então com lotação esgotada. Isso nas estimativas dos estudiosos. Na vida real, a espaçonave Terra vem emitindo alertas regulares e contundentes de que não tem mais recursos disponíveis para abrigar, alimentar e hidratar nem sequer seus atuais passageiros. A própria curva de produção e liberação de gases de efeito estufa, entre eles o CO2 e o metano, que tanto se discute em Copenhague, cresce paralelamente à do aumento da população. Para atacar com |