Caso Furnas prova corrupção, diz Jarbas
Política

Caso Furnas prova corrupção, diz Jarbas


O ESTADO DE S. PAULO

Luciana Nunes Leal, Ana Paula Scinocca e Cida Fontes


O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) fez ontem no Senado discurso contra a impunidade e citou o caso da tentativa de troca de comando no fundo de pensão de Furnas e Eletronuclear. Jarbas disse que "os acontecimentos" na Fundação Real Grandeza são “prova clara e inequívoca" de corrupção. Ele cobrou do presidente Lula "auditoria independente que coloque tudo em pratos limpos". (págs. 1 e A6)

Jarbas ataca PMDB e cobra auditoria no Real Grandeza

Da tribuna, senador diz que "os acontecimentos" no fundo "são prova clara e inequívoca" da corrupção

O cerco promovido pelo PMDB ao Real Grandeza, fundo de pensão das estatais Furnas e Eletronuclear, virou a tradução prática das denúncias do senador Jarbas Vasconcelos (PE) contra seu próprio partido. Em discurso no plenário, o senador voltou a atacar ontem as práticas da legenda e cobrou uma auditoria oficial nos fundos de pensão.

Ouvido por 41 dos 81 senadores, Jarbas disse que "os acontecimentos" no Real Grandeza "são uma prova clara e inequívoca " do que denunciou em entrevista à revista Veja, na qual acusou o PMDB de envolvimento em corrupção. O PMDB tentou emplacar um apadrinhado político no comando do fundo, provocando protestos de funcionários e até a intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que barrou a operação.

O senador e ex-governador de Pernambuco cobrou de Lula a instalação de uma auditoria independente que "coloque tudo em pratos limpos" em relação aos fundos de pensão.

O presidente da Fundação Real Grandeza, Sérgio Wilson Ferraz Fontes, afirmou que Jarbas está "equivocado" ao cobrar de Lula a instalação de uma auditoria independente. "Nós já somos acompanhados por controladores externos que verificam a performance de nossos investimentos", observou.

Como forma de barrar a influência dos partidos em diretorias financeiras de estatais, o senador propôs a aprovação de uma lei que proíba o preenchimento desses cargos por indicações políticas. Os nomes dos diretores, pelo projeto, seriam aprovados pelo Senado Federal, seguindo o exemplo do que já ocorre hoje com os dirigentes das agências reguladoras. "A classe política, se tivesse bom senso, deveria ficar a quilômetros de distância de qualquer diretoria financeira", disse.

Jarbas também atacou a impunidade de crimes cometidos no poder público. "No Brasil dos dias atuais, a certeza da impunidade dá uma força muito grande a quem não agiu com lisura e correção. As pessoas se agarram aos cargos como um marisco no casco de um navio. Não caem nem nas maiores tempestades."

Ao citar a tentativa de parte do PMDB - ligado ao deputado Eduardo Cunha (RJ) e ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão - de mudar o comando do Real Grandeza, Jarbas reiterou a decisão de não citar nomes de colegas de partido envolvidos em corrupção. "Repito: não preciso citar nomes, pois eles vêm à tona, infelizmente, quase que diariamente."

O discurso começou com um protesto de Jarbas contra o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), a quem acusou de promover uma "retaliação mesquinha". Na véspera, Renan destituiu o pernambucano da Comissão de Constituição e Justiça, uma das mais importantes do Senado.

O senador fez uma crítica ao presidente Lula ao apresentar proposta de criação da uma agência anticorrupção e outra da retomada do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e, em seguida, dizer que tirou as duas ideias do programa de governo do petista, na campanha de 2002.

Segundo o peemedebista, sua vida está sendo investigada pelos adversários em razão das denúncias que fez. "Não temo esses investigadores, apesar de considerá-los credenciados para tal função, pois de crimes eles entendem."

Logo no início do pronunciamento, o senador pernambucano repetiu que não retiraria "uma vírgula" do que já disse sobre corrupção em seu partido. Sem citar os nomes de Sarney e Renan, discursou: "Não sou mesquinho, não sou pequeno. O que tinha que dizer sobre o presidente desta Casa, já disse. O que tinha que dizer sobre o líder do meu partido, já disse. Seria mesquinho e pequeno se acrescentasse mais detalhes, mais adjetivos".

O dia de ontem começou com uma reunião da bancada do PMDB, sem a presença de Jarbas. Colegas do partido, em especial a senadora Roseana Sarney (MA), filha de José Sarney, protestaram contra a maneira tímida como o partido reagiu às acusações feitas pelo ex-governador de Pernambuco.

REPERCUSSÃO
Pedro Simon
Senador (PMDB-RS)

"As soluções para os fundos de pensão, as diretorias financeiras e a reforma política partirão do pronunciamento de hoje. Vamos retornar o Jarbas (à CCJ), seria muito positivo"

José Agripino Maia
Senador (DEM-RN)

"O atual governo fatia grupos políticos e recebe as indicações sem fazer filtro. Grupos com compromisso apenas com seus próprios interesses. Aí surge a corrupção"

Arthur Virgílio
Senador (PSDB-AM)

"Vossa Excelência tem o meu lugar para que continue integrando esse colegiado tão importante. Sua entrevista foi o grande momento político do Brasil em 2009"

Tasso Jereissati
Senador (PSDB-CE)

"Desde o período do mensalão, onde não se desmentiu nada, apenas se justificou, as coisas estão aí. As coisas ficam como estão, ninguém se espanta, ninguém investiga"

Tião Viana
Senador (PT-AC)

"O presidente da República é um homem correto. Mas os problemas estão aí e a qualidade da política hoje é pior. O parlamento está enfraquecido, contaminado pela corrupção"

Valter Pereira
Senador (PMDB-RS)

"Vossa Excelência se posta como algoz da corrupção e não do PMDB. Qual é o partido que não teve algum de seus componentes enredado em problemas de corrupção?"

Cristovam Buarque
Senador (PDT-DF)

"Ou o senhor e eu devemos ser punidos, porque estamos faltando com a verdade, ou os outros devem ser punidos pela situação degradante em que vive o Senado"

Jefferson Praia
Senador (PDT-AM)

"Estamos refletindo sobre o maior mal deste país, sobre a corrupção do Brasil. O grande salto que temos de dar daqui para a frente é como vamos sair"



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