Jarbas Vasconcelos denuncia que o PMDB teria contratado
agência de espionagem americana para grampear seus
telefones e vasculhar sua vida como retaliação a suas
acusações sobre corrupção
Otávio Cabral
Dida Sampaio/AE |
"Já é inadmissível que arapongas vasculhem a vida de um senador da República. Mas é um escândalo descomunal imaginar que a contratação dos espiões tenha partido daqui do Congresso" |
Ao denunciar, em entrevista a VEJA, que a maioria dos integrantes do PMDB usa o partido e a política para fazer negócios, o senador Jarbas Vasconcelos colocou-se como alvo natural de retaliações. Na semana passada, logo depois de ir a plenário e ratificar as acusações, ele foi afastado da Comissão de Constituição e Justiça. Na Câmara, um obscuro deputado levantou suspeitas sobre a aposentadoria do senador. Mas veio das sombras o ataque mais insidioso. Nesta terça-feira, Jarbas Vasconcelos ocupará mais uma vez o plenário para fazer uma nova e explosiva revelação: integrantes de seu partido, o PMDB, teriam contratado uma famosa empresa americana de investigação privada para grampear seus telefones, vasculhar sua biografia e vigiar os passos dele e de seus familiares. O objetivo seria encontrar algo que pudesse criar constrangimento ao parlamentar e, com isso, desqualificar suas denúncias. Jarbas vai pedir à Polícia Federal que apure o caso. "Já é inadmissível que arapongas vasculhem a vida de um senador da República. Mas é um escândalo descomunal imaginar que a contratação dos espiões tenha partido daqui", diz o senador, referindo-se ao Congresso
Na semana passada, o senador foi procurado por um homem que se identificou como dono de uma agência de detetives em Pernambuco. Em uma reunião com um assessor de Jarbas, ele contou que, há quinze dias, foi procurado por alguém que se disse a serviço da notória agência Kroll com uma proposta de parceria para um trabalho delicado que envolvia um político da região. O detetive respondeu que tinha interesse e os dois marcaram um encontro. A proposta foi feita e revelaram-se os detalhes do serviço. A tarefa era grampear os telefones celulares e fixos da casa e do escritório e instalar escutas ambientais. Ao detetive caberia vasculhar as contas bancárias e procurar em cartórios, tribunais e órgãos públicos documentos relativos à vida pessoal do espionado e seus amigos. A parceria só não foi fechada, segundo relatou o detetive do Recife, porque ele se recusou a espionar Jarbas Vasconcelos. "Ele disse que não fez o serviço porque tinha admiração por minha atua-ção política e porque temos amigos em comum", relata o senador. Jarbas vai dizer ao plenário que o detetive exibiu sua identidade funcional e as anotações que recebeu do homem que seria da Kroll, com os objetivos e alvos da investigação. Por razões óbvias, Jarbas não revelará o nome do detetive que se recusou a espioná-lo. A Kroll disse que não espiona políticos.
A tentativa de espionar o senador foi o mais ousado contra-ataque que a corrupção promoveu contra a defesa da ética. Desde a entrevista de Jarbas, o PMDB já sofreu duas derrotas. A primeira foi o fracasso na tentativa de trocar o comando do fundo de pensão Real Grandeza. Quando a intenção do PMDB de ocupar o fundo se tornou pública, funcionários e políticos reagiram e Lula brecou a manobra. A outra derrota foi a demissão do diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, homem de confiança de Sarney e do senador Renan Calheiros. Acusado de irregularidades em licitações e contratações, Agaciel foi convencido a deixar o cargo após a revelação de que ele possui uma mansão, avaliada em 5 milhões de reais, nunca declarada à Receita. Ao retornar nesta semana ao plenário com outra denúncia grave, Jarbas Vasconcelos joga um pouco mais de luz dentro da caverna.
Fotos Lula Marques/Folha Imagem e Ricardo Stuckert Filho/Ag. O Globo |
AÇÃO E REAÇÃO O ex-diretor do Senado Agaciel Maia (à dir.) e sua mansão de 5 milhões de reais, que nunca foi declarada à Receita: sua demissão foi uma das derrotas que o PMDB sofreu após a entrevista de Jarbas |