Celso Ming É juro zero
Política

Celso Ming É juro zero


A maior economia do mundo opera agora a juros próximos do zero por cento ao ano. Isso equivale a uma queda entre 0,75 e 1 ponto porcentual no nível anterior, que já estava a 1% ao ano.



O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) vai regular o volume de dinheiro no mercado americano de maneira a manter seu preço (juros) em qualquer ponto desse intervalo, também denominado banda de juros. Na prática, o juro é zero. E só não fica abaixo desse nível porque não é possível operar com juros nominais negativos.



Os analistas mais ousados apostavam em que os juros básicos (Fed funds) baixariam 0,75 ponto porcentual, para 0,25% ao ano. Mas caíram mais do que isso. E a política monetária, a mesma que regula o volume de dinheiro na economia americana, muda substancialmente.



Desta vez, o comunicado, divulgado ontem às 17h15 (hora de Brasília), mais longo do que de costume, não escondeu a gravidade do momento. Reconheceu que o mercado de trabalho está fortemente deteriorado e que os bancos estão pressionados. Também deixou claro que os juros se manterão "em níveis excepcionalmente baixos por algum tempo", o que lembra a paradeira do Japão ao longo da década de 90 (veja o Confira).



Outra informação importante é a de que, desta vez, a decisão foi tomada por unanimidade. Não houve nem a costumeira dissidência do presidente do Fed de Dallas, Richard Fischer, que muitas vezes votou isoladamente a favor de juros mais altos do que os apontados pela maioria.



A decisão de ontem mostra que o Fed desconsidera a hipótese de volta da inflação. Ao contrário, a expectativa passa a ser de deflação, distorção da economia cuja análise esta coluna se dedicou na edição de ontem.



Toda a atenção do Fed está voltada agora para tirar a economia americana da deflação e da depressão. Entenda-se, também, que não há limite para emissão de moeda.



Ontem, matéria publicada na Broadcast, o serviço eletrônico de Economia e Finanças do Grupo Estado, lembrava que, já em 2004, o atual presidente do Fed, Ben Bernanke, especialista em Grande Depressão, publicou artigo acadêmico em que admitia a possibilidade de o banco central operar em condições excepcionais de oferta monetária, que denominou "afrouxamento quantitativo".



É a situação em que, mesmo a nível zero, o custo do crédito fica alto para os bancos porque a inflação tende a ficar por um bom tempo abaixo de zero (deflação).



Também fica difícil a situação dos proprietários de imóveis americanos, que estão amarrados a contratos hipotecários a juros nominais entre 7% e 10% que, em termos reais, ficarão uma enormidade.



Não é fácil prever como os mercados operarão nesse ambiente totalmente fora de padrão. Em princípio, cairá ainda mais o rendimento (yield) dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos e é preciso ser examinado até que ponto continuarão atraindo como porto seguro global.



Talvez as aplicações de risco, especialmente as ações, voltem a atrair. No entanto, o Fed pintou um quadro tão negativo para o mundo dos negócios que não fica claro até que ponto se pode contar com bons resultados para as empresas.



Confira



O caso japonês - Este gráfico já saiu na coluna de ontem. Mostra como, na década de 90, o Japão teve de lidar com um quadro de deflação e juros muito próximos do zero. Foi um período de recessão e de baixa resposta da política de juros.



loading...

- Operação Conjunta Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 06/07/2012 Ontem, quatro grandes bancos centrais derrubaram seus juros básicos. Foram eles o Banco Central Europeu (BCE), o Banco da Inglaterra (BoE), o Banco do Povo da China (BPoC) e o Banco Nacional da Dinamarca. E não...

- Faltou Explicação Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 09/09/11 Desta vez, a Ata do Copom, documento pelo qual o Banco Central justifica sua política monetária (política de juros), não acrescentou nada de especialmente novo ao comunicado divulgado logo após a reunião do dia 31...

- Cinco Anos De Recessão? Vinicius Torres Freire
Folha de S Paulo Diante do pânico na praça e do risco de nova recessão nos EUA, Fed anuncia juro zero até meados de 2013 O BANCO CENTRAL dos Estados Unidos, o Fed, avisou ontem que pretende manter a taxa básica de juros em zero até meados...

- Celso Ming Meta De Quê?
O ESTADO DE S. PAULO Sem vacilação, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirma que a enorme crise financeira que varre o planeta tem origem nos juros excessivamente baixos praticados pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados...

- Celso Ming A Culpa Dos Juros
Veneno de cascavel, se não mata, aleija. Mas também serve para curar picada de cascavel, como os técnicos do Instituto Butantan estão sempre prontos a ensinar. É, em parte, o que também se diz da política de juros. Na semana passada, na cidade...



Política








.