Política
Cinco anos de recessão? VINICIUS TORRES FREIRE
Folha de S Paulo
Diante do pânico na praça e do risco de nova recessão nos EUA, Fed anuncia juro zero até meados de 2013
O BANCO CENTRAL dos Estados Unidos, o Fed, avisou ontem que pretende manter a taxa básica de juros em zero até meados de 2013. A política de juro zero começou no final de 2008. Caso o Fed possa manter seu compromisso verbal até 2013, serão pelo menos quatro anos e meio de política monetária de guerra. De guerra contra o risco de depressão e deflação (como em 2008-09), de tentativa de sair da recessão (como em 2009-10), de tentativa algo desesperada de evitar nova recessão, como agora.
Não se trata de dizer que o Fed prevê estagnação ou coisa pior nos EUA até 2013. Note-se ainda que o pessoal dos mercados financeiros também não esperava alta nos juros americanos antes de 2012. Mas, com a decisão de ontem (controversa até dentro do Fed), o BC dos EUA:
1) assume que as suas previsões de crescimento para 2011 foram totalmente para o vinagre (chegaram a estimar alta do PIB de 3,5%, ainda neste ano);
2) tenta, à base de anúncios de intenções, derrubar ainda mais os juros nos EUA, ao menos enquanto não tem certeza do que vai acontecer nas próximas semanas e enquanto elabora (talvez) outro meio de tentar estimular a economia;
3) neste momento de tumulto alucinado nos mercados, de incerteza sobre o tamanho do tombo da economia dos EUA e sobre o risco de colapso europeu, vai dar combustível temporário para segurar os preços de ativos de risco, como ações.
Os mercados reagiram de modo errático, alucinado, à decisão do Fed, divulgada na tarde de ontem. Despencaram para em seguida subirem de modo eufórico. Ao fim da confusão, o resultado era o mais compatível com uma política monetária totalmente relaxada. Os juros dos títulos da dívida do governo americano caíram para níveis semelhantes aos de novembro de 2008, ainda de pânico financeiro e de temor de depressão. O retorno dos papéis de até dez anos é zero ou negativo, em termos reais (descontada a expectativa de inflação).
O dinheiro voou para ativos de risco, como ações, inclusive de países "emergentes", como o Brasil.
O dólar perdeu valor tanto em relação a moedas "seguras" (franco suíço, iene) como "especulativas", como o real, que deu um pulo. O preço de commodities, como o petróleo, deu um salto. Tudo isso ontem de tarde, numa reedição em câmera rapidíssima do que tem acontecido desde que o Fed decidiu despejar dinheiro nos EUA, em 2010.
O objetivo do Fed era, claro, baixar juros, aumentar o dinheiro à disposição para o aumento do crédito. Mas famílias e empresas estão sem apetite por crédito, ou sem condição de tomar empréstimos.
O dinheiro, pois, migrou para praças e ativos mais rentáveis. Como resultado, os preços das commodities, já pressionados pelo consumo, subiram ainda mais com a ajuda da especulação com dinheiro barato. Moedas como o real, em particular, valorizaram-se brutalmente.
Nas interpretações ainda muito erráticas e caóticas de ontem, gentes do mercado americano acreditavam que o Fed tende a apresentar alguma outra política de estímulo monetário, a ser apresentada talvez no final do mês. Na falta de estímulo fiscal (o governo foi impedido de gastar mais, pelo Congresso), seria a alternativa restante. Mas como os juros podem cair ainda mais?
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