A crise de confiança continua forte, às vezes mais exposta e, outras vezes, menos. E certamente ainda vai ser preciso fazer muito mais do que vem sendo feito e durante mais tempo.
Em todo o caso, a percepção geral é de que finalmente há um embrião de comando único e este comando não provém de uma mão invisível, mas de autoridades de Estado.
E aí chegamos ao limiar de uma das mais relevantes limitações da política econômica deste século: o comércio, a tecnologia, as finanças, as comunicações e tanta coisa mais estão definitivamente globalizados, mas os organismos encarregados de definir políticas e de supervisionar os agentes continuam atrelados às fronteiras nacionais.
A crise das hipotecas micadas, supostamente circunscrita ao mercado americano, contaminou toda a economia mundial, a ponto de se ver que, há apenas uma semana, a Europa ficou mais vulnerável do que os próprios Estados Unidos. E isso não é assim porque Estados Unidos e Europa sejam economias gigantescas que contaminem uma à outra. A Islândia, por exemplo, é uma economia insignificante. E, no entanto, a quebra do seu sistema financeiro está castigando duramente a Alemanha, a Inglaterra e a Holanda. Seus três maiores bancos, o Kaupthing, o Glitnir e o Landsbanki, que acabam de ser estatizados, detêm ativos de US$ 61 bilhões, volume 12 vezes maior do que o PIB da Islândia, conforme observa a Bloomberg.
Uma das razões pelas quais os bancos centrais dos países ricos não combateram a crise no ovo foi a de que a percepção dos seus dirigentes não apontava nenhuma inflação relevante contra a qual definir políticas.
No entanto, os preços dos imóveis disparam desde 2002 e, de lá para cá, uma bolha financeira atrás da outra apareceu, o que indicou a formação de uma enorme aceleração global de demanda. Mas, no âmbito dos bancos centrais, essa anomalia ou foi percebida como inflação de custos (porque formada no exterior), contra a qual a política de juros não pode nada, ou como mera disparada dos preços dos ativos financeiros (como títulos, ações, moedas e ouro), itens que não fazem parte das cestas de consumo com que se mede a inflação no varejo.
A economia e as finanças, que funcionam 24 horas por dia, são irreversivelmente globais e estão pedindo políticas globais. Mas não é só isso; estão pedindo também instituições globais capazes de conduzi-las e supervisioná-las globalmente.
Em 1944, o acordo de Bretton Woods já entendera que seriam necessárias instituições supranacionais para garantir contra-ataques eficazes a focos de crises de pagamentos. Hoje está mais do que sabido que o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, criados para isso, são instituições falidas, não em patrimônio, mas no cumprimento de suas funções, porquanto são incapazes de mover um único dedo para conter uma crise como esta.
A grande ameaça acaba por unir circunstancialmente os chefes de Estado e os dirigentes de bancos centrais na condução de uma política ainda insuficiente, mas comum.
No entanto, virão tempos carregados com menos ansiedade. E, se novas instituições globais de formulação e supervisão de políticas não forem criadas, ficará bem mais difícil coordenar o processo de tomada de decisões e políticas capazes de desfazer crises.
Confira
É o real - A presidente argentina, Cristina Kirchner, pediu uma reunião de cúpula do Mercosul para estudar uma ação contra a crise. O que ela quer de fato é impedir a desvalorização do real, que está inundando seu país com produtos brasileiros.
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