Chuva abundante, volta do calor, recuperação dos preços das commodities agrícolas - tudo parece confluir para uma excelente semeadura de primavera. Mas a disposição do agricultor é hoje mais de cautela do que de otimismo. O baque sofrido na safra passada, quando a produção de grãos foi de 135 milhões de toneladas, 6,2% menor do que a anterior, e, mais do que isso, o baixo retorno proporcionado pelo dólar barato nas exportações vêm contendo o entusiasmo.
No entanto, um bom desempenho da produção agrícola é essencial para a recuperação da atividade econômica no interior. E um interior bem azeitado é um excelente escoadouro da produção industrial. Mas, dessa vez, não se pode olhar para o comportamento do setor agrícola apenas com olhos econômicos. 2010 será, antes de mais nada, um ano eleitoral. Se algo andar mal na agricultura, as pressões sobre Brasília serão insuportáveis.
Para Amaryllis Romano, da Tendências, será o comportamento dos preços das commodities que irá determinar a disposição do plantio. Para Pedro Collussi, analista de grãos da AgraFNP, um dos fatores determinantes deve ser a queda de custos. Os fertilizantes estão hoje cerca de 40% mais baratos do que há um ano. E esse é um bom começo.
A Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda) diz quase a mesma coisa com outro critério. A quantidade de produto agrícola necessária para comprar 1 tonelada de fertilizante é menor agora do que há um ano em um bom número de casos. No caso da soja, por exemplo, caiu de 26,3 sacas (de 60 quilos) em 2008 para 21,3 sacas neste ano até julho. No do arroz em casca, caiu de 71,5 sacas para 65,5 e no do trigo, de 37,8 sacas para 35,6.
Como os insumos estão pesando menos na conta bancária do produtor e como as cotações dos grãos estão em tendência de alta, as margens devem aumentar. Nos cálculos de Collussi, a rentabilidade da soja tem tudo para ficar em torno de 10% nesta safra. Mas para o milho a perspectiva é menos favorável. Ela deve ficar ligeiramente positiva na Região Sul, mas, nas demais regiões do País, é possível que as margens fiquem iguais a zero ou até mesmo negativas, alerta ele.
Para fugir das previsões negativas sobre o milho, muitos produtores optaram pela soja. O primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado no início de outubro, aponta que a área plantada para a primeira safra do milho deve diminuir entre 8,2% e 5,7%. Já a da soja deve crescer entre 2,6% e 4,2%. (Colaborou Nívea Terumi)
Esclarecimento
O leitor Richard Fontana, que atua no setor de fabricação de equipamentos e montagem de usinas de biodiesel, discordou do teor da coluna publicada no último dia 24. Ficou dito, então, que hoje não há o que fazer com a torta do pinhão-manso, que possui alta toxidez. Para ele, os resíduos industriais do pinhão-manso estão destinados a ser fertilizante natural orgânico, dadas as suas excelentes condições de recuperação de terras. Além disso, é um agente eficiente na eliminação de nematoides. Fontana lembra que a Embrapa tem importantes pesquisas nessa área. E, de fato, a Embrapa Agroenergia vem desenvolvendo estudos para viabilizar o uso da torta do pinhão-manso como adubo e também como ração.
Bruno Laviola, pesquisador da Embrapa, não nega a importância dessas pesquisas. Mas afirma que, até agora, elas não apontaram a solução. Diz ele: Ainda não existe em escala comercial um processo validado de destoxificação da torta (que retire todo o éster de forbol, curcina e fatores antinutricionais), de modo que permita seu uso na nutrição animal. Também não há resultados conclusivos sobre o uso contínuo desse subproduto como adubo nem sobre seu impacto no meio ambiente e nos micro-organismos do solo.