O presidente Lula finalmente reconheceu que o biodiesel enfrenta problemas. Ontem, ao antecipar em três anos a mistura obrigatória de 5% de biodiesel ao diesel mineral, advertiu que não temos o direito de ficar dependentes da soja, que é alimento. É a primeira vez que o presidente Lula aceita o argumento de que alimento não deve ser transformado em combustível. Se isso for levado às últimas consequências, o etanol também ficará sob tiroteio.
Mas o problema principal do biodiesel não é sua dependência de um alimento. É sua dependência de uma matéria-prima exposta à disparada de preços.
Desde julho, todo o diesel comercializado no País tem proporção de 4% de biodiesel. O consumo interno anual atinge 1,3 bilhão de litros do biocombustível. Nada menos que 79% do total provém de uma única fonte: a soja.
Se os preços da soja dispararem, como já ocorreu, a produção de biodiesel ficará proibitiva. Os custos de produção, que estavam em São Paulo entre R$ 1,90 e R$ 2,00 por litro em setembro, subiram para entre R$ 2,10 e R$ 2,20 agora em outubro, observa Miguel Biegai, analista da Safras & Mercado. E ele avisa: É alto o risco de que os produtores deixem de cumprir seus contratos diante da escalada dos custos.
A saída parece óbvia: substituir a soja por outra matéria-prima. No momento, a melhor aposta recai sobre o pinhão-manso, arbusto da família da mamona que tem entre três e oito metros de altura. Dos grãos de seus frutos se extrai o óleo (30% a 35% do seu peso, o dobro da produtividade da soja ou do caroço de algodão).
Dia 9, ocorreu o primeiro esmagamento de pinhão-manso com o objetivo de obter óleo para fins comerciais. O diretor executivo da Fusermann - empresa mineira encarregada do processamento -, Luciano Piovesan Leme, conta que 100 toneladas do grão produziram 37 toneladas de óleo, o que mais se aproxima das características físicas do óleo diesel.
O problema é que a cultura avançou pouco no seu desenvolvimento genético. A domesticação da planta leva tempo, avisa o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Frederico Durães. Conhecemos o pinhão-manso há muitos anos. Mas só há sete passamos a pesquisá-lo de olho no seu uso comercial.
Durães cita dois dos que considera grandes gargalos para domar o pinhão-manso. O primeiro é sua falta de adaptação aos diversos climas do Brasil. Apesar de resistente e perene, a planta perde produtividade em condições climáticas adversas, especialmente quando a distribuição de chuvas não é uniforme, explica.
A segunda limitação é o largo período de florescimento, entre novembro e maio. O amadurecimento dos frutos é irregular, o que também ocorre com a mamona. É fator que impede a colheita mecanizada e aumenta substancialmente os custos de produção.
Outro problema sem solução é o destino a ser dado aos resíduos. O pesquisador da Embrapa Bruno Laviola reconhece que hoje não há o que fazer com a torta, que possui alto teor tóxico.
No restante do mundo, a maior parte do óleo vegetal provém de apenas quatro grãos: soja, dendê, girassol e canola, todos alimentos. Para substituí-los, o pinhão-manso ainda tem longo e incerto caminho a percorrer. Enquanto isso, o biodiesel corre riscos. (Colaborou Nívea Terumi)