O Estado de S. Paulo - 15/07/2009 |
Krugman adverte: este é o crescimento econômico com desemprego. O professor Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia (2008) e articulista do New York Times, vem escrevendo que esta crise é bem mais do que se percebe. E um desses mais é a perspectiva de recuperação da economia global, mas sem reabertura de postos de trabalho fechados durante a crise. O diagnóstico de Krugman faz sentido. (Veja o Confira.) E ontem o presidente americano, Barack Obama, advertiu que o desemprego nos Estados Unidos, que já é o maior dos últimos 25 anos, vai aumentar. A crise está servindo de justificativa para um enorme processo de fechamento (definitivo) de postos de trabalho. Até mesmo o governo Obama, que se elegeu defendendo o emprego dos americanos, vai cobrando demissões no mercado financeiro e nas montadoras de veículos, em nome de uma exigência maior: a da preservação das empresas. Na Europa, os mecanismos automáticos de ajuste funcionam bem mais do que em outros países ricos. A empresa não tem tantos escrúpulos em demitir porque o seguro-desemprego generoso é acionado assim que a dispensa se consume. Por enquanto ainda não há retomada da atividade econômica porque a economia europeia aponta para uma recessão demorada. Mas, quando as máquinas voltarem a girar, provavelmente será com menos gente e com gente mais barata. Se é fato que se espera a recuperação com menos postos de trabalho, pressupõe-se também que até as vésperas da crise o sistema produtivo global vinha funcionando com algum excesso de mão de obra. Mas esse é um processo que não começou com a crise. Isso já tem pelo menos dez anos. Dois fatores contribuíram fortemente para isso. O primeiro deles foi o grande aumento das exportações asiáticas para os países ricos. Ficou muito mais barato importar. E, se o produto acabado é montado localmente, os componentes e peças podem vir de fora - e cada vez mais isso ocorre. Com isso, apareceram certas folgas no emprego de pessoal. O segundo fator altamente poupador de mão de obra (e também de máquinas, capital de giro, instalações e tanta coisa mais) é o crescente emprego de Tecnologia da Informação, processo que tem muito ainda a avançar nos quatro cantos do Planeta, especialmente no setor de serviços. Quando o resto do mundo rico informatizar os seus bancos aos níveis que se veem no Brasil, provocará a mesma dispensa de pessoal que houve por aqui. Esse jogo tem outro nome. Trata-se do atual processo de redivisão internacional do trabalho que passou a incorporar ao sistema global de consumo camadas crescentes de asiáticos, possivelmente de mais de 30 milhões por ano, e, pelas beiradas, também cucarachos latino-americanos. Processos dessa natureza nunca são indolores e podem provocar movimentos de desordem social. Os 366 funcionários da indústria de autopeças New Fabris, em liquidação judicial, na França, ameaçam explodir a fábrica se não receberem indenização de 30 mil euros cada um. E a revolta dos uigures no noroeste da China, que acontece com rótulo étnico, parece mostrar a quantas anda a nova impaciência chinesa. |