O Estado de S. Paulo - 06/05/2009 |
A trajetória do câmbio no Brasil tem tudo para contrariar velha crença dos economistas brasileiros: a de que o real se desvaloriza em relação ao dólar sempre que os juros caem. Neste momento da economia, em vez de provocar a alta do dólar, a redução dos juros tende a causar um movimento contrário, o de derrubar a cotação do dólar em relação ao real. Não se trata de contrariar a teoria clássica. Trata-se apenas de conferir, que no arranjo de hoje, na prática a teoria é outra. Muitos economistas insistem em denunciar que os juros altos cumprem a função de valorizar o real em relação ao dólar porque estimulam as operações de arbitragem financeira, ou seja, encorajam a tomada de empréstimos em moeda estrangeira para reaplicá-los no Brasil a juros muito mais elevados. Essa entrada da moeda americana provoca a queda do dólar no câmbio interno que, por sua vez, tende a tirar competitividade do produto brasileiro porque o encarece em dólares. Por isso esses economistas defendem a derrubada implacável dos juros "para salvar o câmbio". Mas, a esta altura, já está acontecendo o inverso disso, como o gráfico está mostrando, efeito que pode ser reforçado com o prosseguimento da política de afrouxamento monetário. Uma das explicações para isso tem mais a ver com um fator psicológico. A queda dos juros aumenta a percepção de que os fundamentos da economia estão saudáveis, num mundo particularmente conturbado, o que eleva o nível de confiança. Assim, os investimentos e as aplicações financeiras tendem a crescer. Isso não necessariamente implica entrada de mais capitais. Basta que, em vez de entrar, os recursos que normalmente seriam transferidos para fora permaneçam por aqui. Outra manifestação do mesmo fenômeno ocorre com as reservas externas. O Banco Central nunca admitiu que tenha comprado dólares para evitar a excessiva valorização do real. No entanto, um dos resultados das intervenções foi esse. Não houvesse esse patrimônio de US$ 200 bilhões a exibir, as cotações do dólar em reais teriam afundado ainda mais do que o R$ 1,56 a que chegaram antes do estouro da bolha financeira global. Mas essa operação não se esgotou aí. Ao contrário, enfatizou o efeito oposto. Esses US$ 200 bilhões das reservas reforçaram a tendência de valorização do real. Passaram para os agentes econômicos do Brasil e do mundo a percepção de que a economia brasileira está blindada contra crises externas. Ou, dito de outra forma, assim como a queda dos juros transmite os sinais de melhora da economia, também essa muralha feita com US$ 200 bilhões aumentou o grau de previsibilidade da economia. E isso tem consequência (positiva) sobre a inflação e sobre o câmbio. Confira Não pegou - O diário La Nación, de Buenos Aires, acolheu a informação da Fiesp de que só 0,5% do intercâmbio comercial entre Argentina e Brasil é fechado em moeda nacional (e não em dólares). "A Argentina está de porre", escreveu ontem o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna, também no La Nación. Não é bem assim - Dia 21/4, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Tim Geithner, avisou que a maioria dos 19 bancos em teste de estresse não precisará de aumento de capital. Ontem, o Wall Street Journal dizia que ao menos 10 precisarão. O que era maioria já é minoria. |