O Banco Central já avisou que não contará com a inflação na meta até
final de setembro. A partir daí, a inflação começará a convergir para
lá - avisa a última ata do Copom.
Essa ideia poderá vir a ser mais bem explicada no Relatório de
Inflação, a ser editado nesta quinta-feira. Em todo o caso, fica claro
que o horizonte com que o Banco Central trabalhará não será, ao menos
desta vez, o ano calendário, mas um ponto qualquer lá no meio de 2012.
É o que o Banco Central chama, algo empoladamente, de "alongamento do
horizonte relevante da meta de inflação".
Primeiramente, é preciso entender o que está por trás dessa decisão.
E, em segundo lugar, avaliar algumas de suas consequências.
No seu depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, na
última terça-feira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini,
citou as novas incertezas geradas por acontecimentos que ninguém
previra. Entre eles, a esticada dos preços das commodities agrícolas,
especialmente dos alimentos, que no período de 12 meses terminado em
fevereiro subiram nada menos que 55%. Mas apontou também o avanço,
este previsível, do crédito, de 20,3%, no período de 12 meses
terminado em janeiro. Não falou que a virulência da inflação foi
provocada mais pela escalada das despesas públicas do que por esses
dois fatores juntos. Mas isso agora é leite derramado.
Tombini provavelmente dirá que, se fosse para enfiar a inflação para
dentro da meta ainda em 2011, seria necessário aplicar uma
quimioterapia de juros. E que, apesar de toda a sua autonomia à frente
do Banco Central e tal, um novo choque de juros agora seria
inadmissível. Daí porque a saída foi estender, ao menos
provisoriamente, o prazo de convergência.
Convém perguntar se esse aumento do prazo será suficiente para
controlar o atual empuxo da inflação. E há um punhado de dúvidas sobre
isso. A primeira delas está no próprio efeito desse alongamento. Será
mais inércia inflacionária produzindo efeitos sobre a inflação futura.
Não está claro se os modelos do Banco Central estão devidamente
carregados com essa pressão e o que virá com ela.
A segunda dúvida é uma enorme omissão. Em nenhum dos seus documentos,
o Banco Central avalia o impacto inflacionário que será produzido pelo
reajuste do salário mínimo em 2012, que será ao menos de 13,9%, um
preço já contratado pela Lei 12.382, de 25 de fevereiro de 2011.
O Banco Central fala do câmbio estimado para 2011, do que espera de
resultado das contas públicas e do comportamento futuro dos preços da
energia elétrica, dos combustíveis e do gás de cozinha. Mas,
misteriosamente, ignora a paulada do mínimo e o efeito que exerce
antecipadamente sobre os preços da economia.
O terceiro fator de inflação é o crédito. O Banco Central tomou as
tais medidas macroprudenciais destinadas a desacelerar o crédito. E lá
mesmo no Senado mostrou gráficos indicando o seu encarecimento e a
redução do número de prestações nas operações de financiamento. O
problema é que o comércio segue vendendo como antes e, o crédito,
crescendo, até porque o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica
Federal (bancos oficiais) ignoram a determinação de limitar o
crescimento do crédito em apenas 15%.
As enormes dificuldades que o Banco Central vem encontrando para
afinar as expectativas do mercado têm tudo a ver com as dúvidas aqui
apontadas.
CONFIRA
Rotulagem de transgênico
Em longa carta a esta coluna, o Instituto de Defesa do Consumidor
(Idec) discordou do questionamento feito à exigência de rotulagem dos
produtos transgênicos no Brasil.
Resíduos tóxicos
Ao contrário do que afirmam dirigentes da CTNBio (organismo que regula
o setor), o Idec adverte que já foi verificada a existência de mais
resíduos de agrotóxicos nas plantações transgênicas do que nas de
cultura convencional.
Riscos à saúde
O Idec também não aceita o que dizem autoridades brasileiras da área:
há, afirma, risco à saúde. O transgênico pode causar resistência a
antibióticos e aumento de alergias.
Ignorância sobre o assunto
Também discorda das conclusões de pesquisa do Instituto Ipos, que
aponta que 74% dos brasileiros não sabem o que é transgenia e não
poderiam rejeitar o produto a partir de aviso em rótulo. Pesquisa do
Ibope, diz o Idec, mostrou que mais de 90% das pessoas querem saber se
o alimento é transgênico ou não.