A arrecadação recorde do governo federal em abril, mais os números do
Índice do Nível de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) e,
ainda, os últimos dados sobre contratação de mão de obra e nível de
emprego confluem para a conclusão de que o ritmo da atividade
econômica (evolução do PIB) em 2011 continua acelerado, bem mais do
que vem pretendendo a política econômica do governo. São números
consistentes com um crescimento econômico real (descontada a inflação)
em relação ao do ano passado de 6,5%.
A evolução média do IBC-Br, já submetida a ajuste sazonal, foi de 1,3%
no primeiro trimestre, o que aponta para os tais 6,5% de crescimento
anual. O avanço real da arrecadação dos quatro primeiros meses do ano
também é dessa magnitude. Enquanto isso, o Ministério do Trabalho
informa que a criação de empregos com carteira assinada nos últimos 12
meses terminados em abril foi de 2,3 milhões, o que mostra um
crescimento do mercado de trabalho de 6,7%.
E, no entanto, as projeções do governo federal, especialmente do Banco
Central, para todo o ano de 2011, são de um incremento do Produto
Interno Bruto (PIB) em torno dos 4%.
Ainda ontem, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, mostrou
que não se deixa impressionar por eventuais consequências
inflacionárias desse desempenho acima do esperado. Para ele, o momento
é de "ponta alta" e já há sinais de desaceleração da atividade
econômica. Ele reafirma que estão mantidas as projeções de uma
evolução do PIB de 4% para todo este ano.
Tombini garante que a inflação atingirá o ponto mais alto "por volta
de agosto de 2011" para, enfim, começar a convergir para o centro da
meta, de 4,5%, no último trimestre de 2012.
Todos os números acima são o resultado da opção feita há alguns meses.
Durante o último ano da administração Lula, a decisão foi aumentar as
despesas do setor público e, assim, criar renda no mercado interno
para facilitar a eleição de Dilma Rousseff. E, nesse início do governo
Dilma, a escolha foi não atacar prontamente os focos de inflação com o
rigor exigido, mas tentar a convergência para a meta apenas em 2012.
Essa estratégia implica riscos. O principal deles é o de que o mercado
de trabalho não se comporte de maneira compatível com o ritmo de
desaquecimento pretendido pelo governo e pelo Banco Central. Os picos
inflacionários, à altura de 7% em 12 meses, coincidem com a próxima
safra de negociações sindicais por reajustes de salário de importantes
categorias profissionais e num ambiente ainda fortemente aquecido.
Além disso, em 1.º de janeiro entrará em vigor o novo salário mínimo,
cujo reajuste já contratado subirá a 14%, patamar também incompatível
com a estabilidade dos preços. São fatores que conspiram contra os
projetos do Banco Central de enquadramento da inflação dentro da meta
até o final de 2012.
Não dá, também, para garantir que os preços das commodities agrícolas
se acomodarão abaixo dos níveis atuais, porque a demanda dos
emergentes, especialmente da Ásia, tende a continuar forte.
Tomara que o Banco Central esteja certo.
CONFIRA
Corte na dívida
Na última quarta-feira, os ministros de Finanças reunidos em Bruxelas
admitiram, finalmente, que não há saída senão aceitar uma certa
reestruturação da dívida grega (de 1,6 bilhão de euros ou 150% do
PIB).
Evitar o contágio
A ideia seria facilitar uma solução para a crise da Grécia sem
empurrar os credores (bancos) para o precipício e sem provocar um
amplo contágio da crise pelos demais países da periferia do euro.
Rejeição
Ontem, no entanto, o primeiro-ministro da Grécia, Georges Papandreou,
rejeitou a reestruturação, provavelmente por temer o fechamento do
mercado de títulos para o país, como aconteceu com a Argentina depois
da renegociação de 2001.
Privatização
E, ainda na quarta-feira, o governo da Grécia anunciou a privatização
de negócios hoje administrados pelo setor público, como aeroportos,
rodovias, ferrovias e a loteria.