"Tudo o que é sólido se desmancha no ar", escreveram Marx e Engels no Manifesto Comunista (1848).
Pois a outrora sólida General Motors (GM), uma das jóias do capitalismo americano, está derretendo. E pede desesperadamente por ajuda estatal.
Seu balanço do terceiro trimestre do ano divulgado ontem veio pior do que o esperado. Acusou prejuízo líquido de US$ 2,54 bilhões. Suas ações ordinárias, que já vinham de um processo de desvalorização, só ontem caíram mais 9,2% (ver, ainda, o gráfico).
A GM não está sozinha na rua da amargura. Juntamente com Ford e Chrysler, forma o conhecido Americas?s Big Three. É um trio que vem sangrando há décadas sob graves erros de estratégia e enormes despesas com fundos de pensão e planos de saúde, mais compromissos assumidos nos anos 50 com os sindicatos.
Como consta no último relatório anual, entre 1993 e 2007 a GM despejou US$ 103 bilhões em aposentadorias e assistência médica, média de US$ 7 bilhões ao ano. Nesse período, pagou a seus acionistas um total de US$ 13 bilhões em dividendos.
O último desastre foi, paradoxalmente, seu maior sucesso comercial. Foi sua linha de utilitários SUV, Sport Utility Vehicle, iniciada em 1990 como reação à escalada da Toyota. Como o SUV pagava tudo, o desenvolvimento de veículos mais leves e econômicos foi sendo adiado.
Mas isso ocorreu nos tempos em que a gasolina custava US$ 2 por galão (3,8 litros). A fartura acabou, a gasolina chegou a US$ 4, os SUVs beberrões foram enjeitados e a crise financeira acelerou o desmanche. Apenas no fim de maio a GM anunciou o fim da produção de seus SUVs.
De lá para cá, as más notícias só aumentaram. Além da queda nas vendas, o pior cenário em 25 anos, a GM teve de enfrentar o colapso nos seus rendimentos na área do leasing, provocado pela queda dos preços dos veículos.
A montadora aderiu ao marketing do desastre para ver se descola salvação. Avisou que a quebra das três montadoras produziria a mortandade de 3 milhões de empregos e que isso seria politicamente fatal.
O presidente Bush não pareceu comovido. Acaba de assinar uma lei que libera US$ 25 bilhões em empréstimos para que as montadoras desenvolvam carros híbridos compactos. Mas isso aponta para um futuro que pode não chegar. A sangria das três grandes apenas no primeiro semestre foi ainda maior, de US$ 28,6 bilhões. O problema não é o longo prazo; é a emergência.
O presidente eleito, Barack Obama, é mais ligado aos sindicatos e é nele que se concentram as esperanças do setor. Na campanha eleitoral, defendeu investimentos de US$ 150 bilhões em dez anos e um desconto de US$ 7 mil em impostos para o consumidor que comprasse um veículo de "tecnologia avançada".
No entanto, este é também um segmento em que a confiança é quase tudo. E o consumidor já sente mais firmeza nos carros asiáticos do que nos carros que, de um dia para outro, podem perder a cobertura dos produtores.
Uma fusão entre GM e Chrysler vinha sendo negociada há meses e, ontem, a GM indicou que já abandonou a idéia. Se saísse, correria o risco de ser vista mais como abraço de afogados do que como um casamento promissor.
COLABOROU NÍVEA TERUMI
ConfiraTem socorro - Na sua primeira entrevista à imprensa, concedida ontem, o presidente eleito americano, Barack Obama, acenou com amplo plano de ajuda ao setor de veículos, a ser examinado pela equipe de transição.
Além disso, Obama defendeu a liberação mais rápida do pacote de emergência, de US$ 25 bilhões, já decidido pela administração Bush.
Enquanto isso, o presidente da GM, Rick Wagoner, aumentou a pressão por verbas. Disse que a empresa pode ficar sem caixa dentro de meses e que um pedido de concordata seria devastador para a economia americana.
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