CELSO MING Emprego, salário e inflação
Política

CELSO MING Emprego, salário e inflação


O Estado de S.Paulo - 12/02/11

Afinal, pleno emprego produz inflação? E de onde saiu a conclusão de
que desemprego abaixo de 7% no Brasil passa a produzir inflação?

Os estudos mais precisos sobre esse tema no Brasil são do Banco
Central (Relatório de Inflação de março de 2008 - A taxa natural de
desemprego no Brasil) e apontam um nível ainda mais alto, entre 7,5% e
8,5%. Mas antes de cravar um número - que jamais será conclusivo -
convém examinar os pressupostos e o que está em questão.

Toda a economia está sujeita a situações em que os salários aumentam
mais rapidamente do que a produtividade. A produtividade avança quando
mais produção pode ser obtida por meio da utilização de igual volume
de força de trabalho. Quando os salários crescem mais do que esse
ponto, não só elevam os custos de produção, mas também se cria renda
que, por sua vez, turbina o consumo. Nessas condições, se aumentar a
velocidade superior à capacidade de oferta da economia, esse consumo
turbinado tende a produzir inflação. É o que acontece nas situações
próximas do pleno emprego, como agora.

Os acadêmicos preferem denominar esse conceito de "taxa natural de
desemprego" ou "taxa neutra de desemprego". O próprio índice de
desemprego não tem grande precisão. Baseia-se em pesquisas em que
predomina certa subjetividade. Muita gente vai sempre se sentir
subempregada ou desempregada, embora tenha uma ocupação razoável. Ao
ser abordada pelos pesquisadores do IBGE, vai dizer que está, sim,
fora do mercado de trabalho. E o contrário disso também ocorre.

E, mesmo que se possa mensurar com alguma precisão o nível de
desemprego de uma economia, é difícil também interpretar seu
significado e sua influência. Ele pode variar de acordo com a idade
média da população ou de acordo com disposições da legislação. E não é
só isso, os efeitos do pleno emprego sobre a inflação são diferentes
de país para país, de cultura para cultura. Um povo mais propenso a
poupar, como os asiáticos, tende a enfrentar o aumento do emprego com
menos inflação, porque saberá conter seu consumo.

E o que dizer do Brasil? Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco,
informa que seu banco trabalha com uma taxa neutra entre 7,0% e 7,5%.
E esse é o mesmo patamar do Banco Santander, como indica o economista
Cristiano Souza.

O especialista em Economia do Trabalho José Pastore entende, mais por
faro do que por cálculo rigoroso, que a taxa neutra hoje se situe na
casa dos 6%. E observa que os acordos salariais do ano passado ficaram
todos acima da inflação. Para José Márcio Camargo, também especialista
em questões trabalhistas, a taxa neutra se situa ao redor dos 6,5%.
Ele, no entanto, adverte que ainda não há pleno emprego no Brasil.
Mas, nos atuais níveis de desemprego (de 5,3% em dezembro), já ocorrem
pressões por mais salário, o que mais adiante tende a provocar
inflação.

Marcelo Portugal, professor da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, observa que nos últimos 25 anos o mercado de trabalho não
pressionou a inflação. Mas diz que o baixo índice de desemprego dos
últimos meses se transformou em caixa de propagação inflacionária.

Enfim, com as variações esperadas, os números disponíveis são esses aí.




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