O PIB do Brasil pode crescer 7,5% este ano. O Itaú Unibanco divulgou
essa previsão, dias depois de o Bradesco ter revisto a projeção para
7%. Quem não está perto desse número avisa que está revendo os
cálculos. Setores empresariais estão elevando suas apostas de altas de
vendas. O economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, disse que o Brasil
cresceu a uma taxa anualizada de 12% no primeiro trimestre.
— Nossos cálculos indicam que o país deve ter crescido 3% no primeiro
trimestre deste ano, o que é uma taxa chinesa. Mesmo se incluirmos uma
queda para um crescimento de 1,1% nos outros trimestres, o crescimento
vai para 7%.
O número é absolutamente realista. Pode ser um pouco mais baixo, da
mesma forma como pode chegar a 8% — diz Goldfajn.
O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco também reviu a
projeção para o PIB de 6,4% para 7%. A mudança foi provocada por
números mais fortes da produção industrial, das vendas do varejo e da
taxa de desemprego, que vieram melhores do que o esperado.
Ontem, o IBGE divulgou que as vendas do comércio cresceram 12,8% no
primeiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano passado.
Em março, o volume de vendas cresceu 1,6% em relação a fevereiro.
A MB Associados também acabou de rever seu número de 6% para 6,6%. O
Credit Suisse prevê crescimento de 6,5%, mas avisou que o número está
em revisão. A Tendências Consultoria também revisou sua estimativa, de
5,2% para 6%. O Boletim Focus sobe há oito semanas seguidas a previsão
do PIB, que já está em 6,26%.
Como era de se supor, as expectativas de inflação também têm se
elevado. Há 16 semanas seguidas a projeção para o IPCA sobe na
pesquisa realizada pelo Banco Central e agora já está em 5,5%.
Na conversa com setores e empresas, os números impressionam.
A Coca-Cola soma 24 trimestres ininterruptos de crescimento no Brasil.
O aumento das vendas no primeiro trimestre deste ano, de 12%, é três
vezes maior que no mesmo período de 2009. O desempenho da empresa no
país contrasta com os números no resto do mundo.
No mesmo período, houve crescimento de 3% das vendas globais e de 4%
na América Latina.
A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee)
disse que no primeiro trimestre deste ano foram abertos 9.160 postos
de trabalho, um aumento de 5,73% em relação a dezembro.
A Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) informou que as
vendas no primeiro trimestre tiveram aumento de 8,61% em relação ao
mesmo período do ano passado.
Na Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos
(Abimaq) a alta no faturamento foi de 20,2% nos três primeiros meses
do ano. O setor de shopping centers registrou alta de 14% nas vendas
do primeiro trimestre, e o presidente da Abrasce, Luiz Fernando Veiga,
disse que elas podem fechar o ano em 15%.
O Bradesco argumenta que as melhores condições de emprego e renda
permitiram que o consumo continuasse forte mesmo após a retirada de
uma parte dos benefícios fiscais dados pelo governo. O banco projeta
que a indústria crescerá 12,7%; o comércio, 10,8%; e o desemprego
médio atingirá o mínimo histórico de 7,1% em 2010.
Os dados do mês de abril e do início de maio "mostram que a
desaceleração da atividade tem sido pequena, resultando em sustentação
de um crescimento acima do potencial também no segundo trimestre", diz
o Bradesco.
O problema desse ritmo é que ele está sendo acompanhado por inflação.
A projeção do Bradesco para o IPCA deste ano subiu para 6%, mas o
banco alerta que há risco de superar o teto da meta, que é 6,5%. Para
o IGPM, a previsão é de 8,7%: "O crescimento acima do potencial tem se
dado com pressões inflacionárias que se revelam incompatíveis com o
centro da meta e, hoje, ameaçam em algum grau o cumprimento da meta
dentro da banda de tolerância do Banco Central. O solo para propagação
da inflação e de recomposição de margens das empresas vem justamente
do baixo desemprego e da elevada utilização da capacidade instalada."
Ilan Goldfajn não tem esse mesmo grau de preocupação.
Ele projeta a inflação em 5,5% este ano e os mesmos 5,5% no ano que
vem. Um pouco acima dos 5,26% do acumulado em 12 meses até abril.
— Nós achamos que o Banco Central vai subir juros para 11,75% este ano
(está em 9,5%) e para 13% no ano que vem. Esse é um aumento forte de
juros, que conterá as pressões inflacionárias.
Além do aperto monetário, acreditamos que haverá também queda dos
estímulos fiscais e creditícios para desacelerar o ritmo de
crescimento — diz Goldfajn.
O Bradesco também acredita que o Banco Central vai subir os juros até
13% nos primeiros meses do ano que vem, para que a economia desacelere
para 4,5% em 2011. O banco diz que a crise externa não o leva alterar
o cenário base.
Ilan acha que o mundo também acelerou o ritmo de recuperação. A
previsão do Itaú Unibanco é que o mundo vai crescer 4,5%: — Os Estados
Unidos vão crescer mais do que o calculado, a China também vai crescer
mais, o Japão está se recuperando. Só a Europa é que terá um grande
período de baixo crescimento. O pacote do fim de semana na Europa
conseguiu resolver um problema de curto prazo, mas por décadas o
continente pode ter queda do ritmo de crescimento.
No seu relatório, o Itaú Unibanco diz que, "apesar das instabilidades
globais", o banco está "reforçando o cenário base para o crescimento
brasileiro." O país está de fato em ritmo de recuperação forte, depois
do recessivo ano de 2009. Os bancos acham que o Banco Central vai
subir juros durante todo este ano e no ano que vem. Não entra na
equação aparentemente que este é um ano eleitoral e juros é um tema
polêmico.