MÍRIAM LEITÃO Ritmo acelerado
Política

MÍRIAM LEITÃO Ritmo acelerado


O Globo - 13/05/2010

O PIB do Brasil pode crescer 7,5% este ano. O Itaú Unibanco divulgou
essa previsão, dias depois de o Bradesco ter revisto a projeção para
7%. Quem não está perto desse número avisa que está revendo os
cálculos. Setores empresariais estão elevando suas apostas de altas de
vendas. O economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, disse que o Brasil
cresceu a uma taxa anualizada de 12% no primeiro trimestre.

— Nossos cálculos indicam que o país deve ter crescido 3% no primeiro
trimestre deste ano, o que é uma taxa chinesa. Mesmo se incluirmos uma
queda para um crescimento de 1,1% nos outros trimestres, o crescimento
vai para 7%.

O número é absolutamente realista. Pode ser um pouco mais baixo, da
mesma forma como pode chegar a 8% — diz Goldfajn.

O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco também reviu a
projeção para o PIB de 6,4% para 7%. A mudança foi provocada por
números mais fortes da produção industrial, das vendas do varejo e da
taxa de desemprego, que vieram melhores do que o esperado.

Ontem, o IBGE divulgou que as vendas do comércio cresceram 12,8% no
primeiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano passado.

Em março, o volume de vendas cresceu 1,6% em relação a fevereiro.

A MB Associados também acabou de rever seu número de 6% para 6,6%. O
Credit Suisse prevê crescimento de 6,5%, mas avisou que o número está
em revisão. A Tendências Consultoria também revisou sua estimativa, de
5,2% para 6%. O Boletim Focus sobe há oito semanas seguidas a previsão
do PIB, que já está em 6,26%.

Como era de se supor, as expectativas de inflação também têm se
elevado. Há 16 semanas seguidas a projeção para o IPCA sobe na
pesquisa realizada pelo Banco Central e agora já está em 5,5%.

Na conversa com setores e empresas, os números impressionam.

A Coca-Cola soma 24 trimestres ininterruptos de crescimento no Brasil.

O aumento das vendas no primeiro trimestre deste ano, de 12%, é três
vezes maior que no mesmo período de 2009. O desempenho da empresa no
país contrasta com os números no resto do mundo.

No mesmo período, houve crescimento de 3% das vendas globais e de 4%
na América Latina.

A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee)
disse que no primeiro trimestre deste ano foram abertos 9.160 postos
de trabalho, um aumento de 5,73% em relação a dezembro.

A Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) informou que as
vendas no primeiro trimestre tiveram aumento de 8,61% em relação ao
mesmo período do ano passado.

Na Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos
(Abimaq) a alta no faturamento foi de 20,2% nos três primeiros meses
do ano. O setor de shopping centers registrou alta de 14% nas vendas
do primeiro trimestre, e o presidente da Abrasce, Luiz Fernando Veiga,
disse que elas podem fechar o ano em 15%.

O Bradesco argumenta que as melhores condições de emprego e renda
permitiram que o consumo continuasse forte mesmo após a retirada de
uma parte dos benefícios fiscais dados pelo governo. O banco projeta
que a indústria crescerá 12,7%; o comércio, 10,8%; e o desemprego
médio atingirá o mínimo histórico de 7,1% em 2010.

Os dados do mês de abril e do início de maio "mostram que a
desaceleração da atividade tem sido pequena, resultando em sustentação
de um crescimento acima do potencial também no segundo trimestre", diz
o Bradesco.

O problema desse ritmo é que ele está sendo acompanhado por inflação.
A projeção do Bradesco para o IPCA deste ano subiu para 6%, mas o
banco alerta que há risco de superar o teto da meta, que é 6,5%. Para
o IGPM, a previsão é de 8,7%: "O crescimento acima do potencial tem se
dado com pressões inflacionárias que se revelam incompatíveis com o
centro da meta e, hoje, ameaçam em algum grau o cumprimento da meta
dentro da banda de tolerância do Banco Central. O solo para propagação
da inflação e de recomposição de margens das empresas vem justamente
do baixo desemprego e da elevada utilização da capacidade instalada."
Ilan Goldfajn não tem esse mesmo grau de preocupação.

Ele projeta a inflação em 5,5% este ano e os mesmos 5,5% no ano que
vem. Um pouco acima dos 5,26% do acumulado em 12 meses até abril.

— Nós achamos que o Banco Central vai subir juros para 11,75% este ano
(está em 9,5%) e para 13% no ano que vem. Esse é um aumento forte de
juros, que conterá as pressões inflacionárias.

Além do aperto monetário, acreditamos que haverá também queda dos
estímulos fiscais e creditícios para desacelerar o ritmo de
crescimento — diz Goldfajn.

O Bradesco também acredita que o Banco Central vai subir os juros até
13% nos primeiros meses do ano que vem, para que a economia desacelere
para 4,5% em 2011. O banco diz que a crise externa não o leva alterar
o cenário base.

Ilan acha que o mundo também acelerou o ritmo de recuperação. A
previsão do Itaú Unibanco é que o mundo vai crescer 4,5%: — Os Estados
Unidos vão crescer mais do que o calculado, a China também vai crescer
mais, o Japão está se recuperando. Só a Europa é que terá um grande
período de baixo crescimento. O pacote do fim de semana na Europa
conseguiu resolver um problema de curto prazo, mas por décadas o
continente pode ter queda do ritmo de crescimento.

No seu relatório, o Itaú Unibanco diz que, "apesar das instabilidades
globais", o banco está "reforçando o cenário base para o crescimento
brasileiro." O país está de fato em ritmo de recuperação forte, depois
do recessivo ano de 2009. Os bancos acham que o Banco Central vai
subir juros durante todo este ano e no ano que vem. Não entra na
equação aparentemente que este é um ano eleitoral e juros é um tema
polêmico.




loading...

- Xeque Em Quatro - Alexandre Schwartsman
VALOR ECONÔMICO - 01/03/12O crescimento industrial em 2011 foi fraco, marcado pela expansão pífia da indústria de transformação, apenas 0,2%. Mesmo este resultado, todavia, não revela a real extensão da questão:...

- Crescimento Ou Inflação? Alberto Tamer
- O Estado de S.Paulo A redução da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central surpreendeu o mercado que esperava algo, sim, mas não 0,50 ponto porcentual de uma só vez, pelo menos agora. A interpretação dos analistas...

- Continua Aquecido- Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 20/04/2011 O nível da atividade econômica continua alto demais para os objetivos do governo, que pretende desacelerar o crescimento do PIB de 7,5% para alguma coisa em torno dos 4%.Ontem, tanto os níveis de desemprego...

- Celso Ming Emprego, Salário E Inflação
O Estado de S.Paulo - 12/02/11Afinal, pleno emprego produz inflação? E de onde saiu a conclusão de que desemprego abaixo de 7% no Brasil passa a produzir inflação?Os estudos mais precisos sobre esse tema no Brasil são do...

- Ficou Braba Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 09/02/2011 Há quatro jeitos escapistas de encarar (ou de não encarar) esse aumento do custo de vida de janeiro, de 0,83%, que atira a inflação do período de 12 meses corridos para 5,99%.A primeira é...



Política








.