O Estado de S. Paulo - 02/03/2011 |
Não estava no radar de ninguém o avanço dos preços das commodities, de 32% em seis meses e de 6,5% nos últimos 42 dias (da última reunião do Copom até ontem), numa situação que é de lenta recuperação global. Nenhum observador conseguiu prever a nova disparada dos preços do petróleo nem muito menos a crise do mundo islâmico que a deflagrou. Conhece-se o início desses eventos apenas depois de começados e, em seguida, não se sabe nem como evoluem nem como terminam. Embora reconheça que a inflação brasileira, de 5,99% em 12 meses, esteja intimamente conectada com a decisão de aumentar as despesas correntes do setor público ao longo de 2010 - como ainda segunda-feira reconhecia o ministro da Fazenda, Guido Mantega -, ninguém no governo previa avanço tão forte dos preços nem contava com que os juros tivessem de subir tanto para empurrar a inflação para dentro da meta. Ao longo do último trimestre do ano passado, o Banco Central apostava equivocadamente em que a desaceleração da atividade industrial (a partir de maio) seria suficiente para conter o consumo interno e a disparada dos preços. Não previu que a alta das matérias-primas puxaria o IGP-M para 11,2% em 12 meses nem que, consequentemente, elevaria os preços administrados (aluguéis, tarifas, contratos financeiros) a ele indexados. Também não esperava que a criação de renda fosse capaz de provocar tão generalizada alta nos preços do setor de serviços. Depois vieram as tais medidas macroprudenciais (reforço de capital dos bancos, restrições à expansão do crédito e aumento da retenção compulsória), tomadas em parte para evitar futuras elevações dos juros. O empenho com que o Banco Central vai apontando a força do efeito (colateral) dessas medidas na contenção do consumo e da inflação mostra que é muito a contragosto que vai sendo obrigado a elevar os juros. Esse conjunto de incertezas já seria suficientemente amplo para exigir políticas mais conservadoras que as que prevaleceram nos últimos 18 meses. No entanto, há ainda mais incertezas externas com que lidar. Como ontem avisou o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, a ameaça de deflação já foi embora. Se há novo risco a enfrentar, embora ele não seja ainda relevante, é o de inflação, em consequência do avanço dos preços do petróleo e das commodities. E, se os grandes bancos centrais do mundo tiverem de voltar a puxar pelos juros, como pode acontecer já nesta semana com o Banco Central Europeu (BCE), será inevitável nova desaceleração da retomada da atividade econômica pós-crise global. Hoje, o Copom deve aumentar os juros em mais meio ponto porcentual, para 11,75% ao ano. Este parece ser um número relativamente moderado diante da força dos preços. Antes de três meses, dificilmente haverá clareza sobre a dosagem ainda necessária para trazer a inflação de volta à meta. CONFIRA Muda a participação No mesmo período, as exportações de produtos primários cresceram 47,5% e saltaram de 37,6% para 44,0% no total. Enquanto isso, as de manufaturados cresceram 10,8% e sua participação no total exportado caiu de 44,8% para 39,4%. |