O fechamento do acordo de troca de moedas entre o banco central dos Estados Unidos (Federal Reserve, Fed) e o Banco Central do Brasil (BC), de US$ 30 bilhões, é um marco na trajetória da economia brasileira. Mas pode ser visto como mais do que isso.
A novidade já havia sido antevista dia 22, quando o governo assinou a Medida Provisória 443, que autorizava o BC a trocar reais por moedas fortes com outros bancos centrais. Na ocasião, esta coluna avisou que essa troca havia sido previamente combinada entre o BC e o Fed.
O Brasil não foi o único a amarrar essa facilidade com o Fed. Austrália, Cingapura, Coréia do Sul, Canadá, Dinamarca, Inglaterra, Noruega, Nova Zelândia, Suécia, Suíça e União Européia já têm acordos desse tipo. Seu objetivo é dar condições para que bancos centrais possam intervir em seus mercados caso tenham de enfrentar ataques especulativos contra suas moedas.
Desta vez, além do Brasil, outros países em desenvolvimento obtiveram acordos semelhantes. Entre eles estão México, Coréia do Sul e Cingapura.
É o Brasil sendo incluído num clube seleto que pode futuramente integrar um esquema de imunização da economia global contra infecções financeiras. Do ponto de vista do Fed, não deixa de ser um esforço no sentido de aumentar a qualidade da corrente por meio do reforço dos seus elos relativamente mais fracos.
Esses US$ 30 bilhões formam uma alentada provisão de moeda estrangeira no País para que instituições financeiras e empresas tenham melhores condições de defender suas finanças (fazer hedge) contra bruscas flutuações no valor das moedas, como as de agora.
Em termos imediatos, o Brasil obteve mais um carregamento de munição que até 30 de abril comporá o arsenal total de US$ 50 bilhões que o BC poderá usar para enfrentar as pressões de compra de moeda estrangeira sem ter de mexer no atual estoque de US$ 203 bilhões de suas reservas.
Os US$ 30 bilhões que vieram com o acordo com o Fed correspondem ao volume de recursos que o País chegou a sacar do Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2002. A diferença é a de que, a cada empréstimo, o FMI fez sempre importantes exigências na condução da política econômica. A nova troca de dólares por reais entre o Fed e o BC não pediu contrapartidas do governo brasileiro, nem em política econômica nem em garantias.
Seu efeito imediato é contribuir para acalmar o mercado de câmbio na medida em que esse cacife passa a ser visto como garantia contra saltos no câmbio. É o cachorrão que o proprietário põe no jardim da casa para manter os intrusos à distância.
Outro jeito de interpretar a criação dessa rede de bancos centrais amarrada ao Fed é tê-la como o embrião de um esquema emprestador global de última instância.
Quando a nova arquitetura financeira internacional for finalmente desenhada, terá de levar em conta essa experiência pioneira. Enquanto os posudos chefes de Estado da União Européia gastam seu tempo em reuniões inconseqüentes e discursos vazios na defesa de uma nova ordem financeira, o Fed vai obrando em silêncio.
ConfiraPoderia ser pior - O PIB americano encolheu apenas 0,3% no terceiro trimestre deste ano (em relação ao trimestre anterior). Os analistas esperavam queda de pelo menos 0,5%.
Isso não quer dizer que a recessão fique por aí. Ela pode apenas estar no início, como advertiu o Fed (o banco central americano) no comunicado divulgado quarta-feira após a redução dos juros de mais meio ponto porcentual.
E anote: quanto maior a percepção de crise na economia americana, mais aumenta a probabilidade de vitória do candidato democrata, Barack Obama, nas eleições presidenciais.
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