Há duas maneiras de receber os novos números que retratam a atividade econômica na Europa.
A primeira delas é examinar os resultados em seu conjunto e verificar que há bons motivos para entender que a União Europeia está se recuperando da crise global, o que é bom para todos os países, especialmente os emergentes, que recobram mercado para seus produtos de exportação.
A outra é examinar os resultados separadamente. Aí fica reforçada a percepção de que a Europa cresce a três velocidades. E isso aumenta ainda mais as diferenças entre sócios do mesmo bloco.
Alemanha, França, Holanda e Áustria são economias líderes que ganham crescente competitividade ante os demais. No grupo intermediário estão Itália, Inglaterra e até a Espanha, com crescimentos da ordem de 1% ao ano. E, na rabeira, os encrencados da periferia, especialmente Grécia, Portugal e Irlanda (esta última sem números atualizados).
O aumento das diferenças complica as coisas, sobretudo na área do euro (onde não estão Inglaterra, Suécia e Dinamarca), por atrapalhar a coordenação de políticas e acentuar as dificuldades orçamentárias dos mais encalacrados. O que importa não é o tamanho da dívida, mas a proporção em relação ao PIB, ou seja, em relação à renda, ou a capacidade de pagá-la. Se o PIB alemão cresce a 4,5% ao ano, sua dívida pública, no mesmo nível, fica mais fácil de pagar. Se a Grécia tem um encolhimento da atividade econômica, as proporções de seu passivo (de 10,5% do PIB no fim de 2010) agora vão crescer, o que acentua a dificuldade para resgatá-la.
Quanto mais o tempo vai passando sem uma solução definitiva para os problemas da Grécia e de Portugal, mais se complica a busca de uma saída.
Nas três últimas semanas, aumentou a percepção de que é inevitável uma reestruturação da dívida da Grécia. Esse termo aí, reestruturação, é o eufemismo empregado para duas situações gêmeas: quebra financeira ou incapacidade de honrar compromissos (default) e calote da dívida.
Se a Grécia fosse uma ilha, a solução viria facilmente. Seria o caso de medir o tamanho do calote necessário para que o país pudesse "começar de novo", conferir quais credores (bancos) correriam o risco de afundar em consequência desse calote e tratar de também socorrê-los.
O problema é que uma reestruturação da dívida não é fato isolado. Produz automaticamente um "efeito contágio" para os demais países com problemas (Portugal, Irlanda, Espanha e, possivelmente, Itália) e o desfecho para o caso grego poderia ter proporções de calamidade.
O que as grandes potências europeias e o Fundo Monetário Internacional parecem tentar agora é um jeito de armar uma reestruturação controlada dessas dívidas, como a que nos anos 90 o então secretário do Tesouro americano, Nicholas Brady, montou, com sucesso, para a crise da dívida dos países da América Latina. O problema é que essas decisões na Europa são complicadas. Nem sempre os países centrais (Alemanha e França) conseguem obter suficiente consenso para a tomada de decisões de interesse comum.
Segunda e terça-feira têm reunião agendada dos ministros de Finanças da União Europeia. Na pauta, esses temas aí.
CONFIRA
Até final de abril, o dólar havia perdido 5,41% em relação ao real. Apenas nos 13 primeiros dias úteis de maio (até ontem), o dólar valorizou-se 4,00% no câmbio interno. É o que o gráfico está apontando.
De olho na Grécia
Esse movimento reflete dois fatores: a valorização do dólar em consequência do agravamento dos problemas na área do euro; e a redução do afluxo de moeda estrangeira para o Brasil, num momento de fuga do risco. Nos próximos dias, os mercados de câmbio ficarão de olho na Grécia. Um eventual calote provocará nova onda de valorização do dólar.