Charlie Hebdo, a testemunha privilegiada
Política

Charlie Hebdo, a testemunha privilegiada


a cartoonista Corinne Rey, popularizada pelo petit-nom de "Coco" estava horrorizada e em estado de choque ainda no local do tiroteio, quando foi contactada por telefone pelo jornal l`Humanité, e descreveu o que tinha acontecido: "eu tinha saido para ir buscar a minha filha à creche, mas quando abri a porta do edificio estavam dois homens encapuzados e armados que nos ameaçaram brutalmente. Eles queriam entrar, ir para a redacção em cima, eu digitei o código. Eles atiraram sobre o Wolinski, o Cabu ... durou cinco minutos ... eu refugiei-me debaixo de uma mesa. Eles falavam francês perfeitamente ... e reivindicavam ser da al-Qaeda" - o retrato da testemunha é da autoria de Théo Robin copiado de um écran de vídeo. Este outro também está impecável. Alguém que "ia a passar" por ali e achou importante filmar para que se soubesse que os dois atacantes falavam perfeitamente francês e eram da al-Qaeda, como se sabe uma sinistra organização inexistente. Londres já tinha tido um episódio semelhante, Madrid também, faltava Paris, que acontece agora precisamente no momento que em a situação de crise económica se agrava e é necessário criar um clima de medo (auto-controlado pelos individuos)  para evitar que os governos assumam abertamente a repressão.

A tragédia de hoje traz novo terreno fértil para mais histeria xenófoba e criminosa contra o Islamismo, mais uma actualização da velha cruzada religiosa do fundamentalismo cristão liderada pelos neoconservadores norte-americanos a coberto da estafada teoria do "choque das civilizações". Dizem as fontes oficiais ter sido um "ataque terrorista de "islamistas fundamentalistas" em retaliação contra as sátiras "anti-Islão"... mais uma boa desculpa para aumentar a psicose securitária no ocidente, e claro a paranóia no controlo biopolítico da população; por exemplo e mera coincidência (e a noticia é de hoje mesmo) o "governo britânico quer infantários a detectar crianças em risco de se tornarem terroristas" (fonte). Ou seja, este atentado que beneficia a extrema-direita é um golpe terrível que atinge uma das nossas principais conquistas civilizacionais: a liberdade de expressão politica - quem se manifestar dissidente das ideias dos neocons no poder é terrorista!

Esta semana, a capa do jornal satírico evoca o livro lançado esta quarta-feira e que está a provocar polémica em França. "Submissão", um romance de Michel Houellebecq, conta a história da ascensão de um muçulmano à presidência de França, levando à instauração da poligamia e do uso do véu, com o próprio narrador do romance a a converter-se ao Islão para manter o seu emprego.
O livro já lidera a lista de pré-encomendas na Amazon francesa e tem sido defendido e atacado com garra nos meios políticos e culturais, havendo quem o compare a "1984" de Orwell e quem o acuse de servir para abrir caminho à extrema-direita de Marine Le Pen. (Esquerda.net) - o Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), que representa a comunidade muçulmana em França e é presidido pelo imã da Grande Mesquita de Paris, repudiou o massacre no Charlie Hebdo, afirmando que "este acto bárbaro de extrema gravidade é também um ataque contra a democracia e a liberdade de imprensa". Ea pergunta é: se toda a gente, cristãos e muçulmanos estão de acordo no essencial sobre direitos democráticos, quem fomenta, paga e publicita este tipo de publicações provocatórias que vão sempre no sentido xenófobo de diabolização do Islamismo?

"What's more insulting to the Prophet than satirical cartoons is the murder of innocents in his name"
Declaração do Exército Árabe Sírio:
"O que aconteceu em França não é nada mais que as políticas do (governo) francês a fazerem ricochete. Nós não desejamos o que estamos a ver na Síria a ninguém, nem mesmo aos nossos inimigos. Mas foi esse mesmo governo (francês) que apoiou os tumultos na Síria, permitindo que movimentos extremistas sentissem que eram imparáveis, o que foi atingido como resultado das suas acções. E por isso eles são os únicos culpados". (Syrian Arab Army)



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