Giuliano Guandalini
Divulgação |
COM AJUDA DO ARTILHEIRO A Vale, a maior companhia de mineração brasileira, escalou o atacante Ronaldo para estrelar uma campanha publicitária na China: parceria vantajosa para os dois países |
A cada 10 toneladas de minério de ferro exportadas pela Vale no primeiro trimestre deste ano, 7 tiveram a China como destino. Os números demonstram a avassaladora importância dos chineses para a maior empresa de mineração do Brasil, principalmente neste momento, em que boa parte do planeta está em recessão. A Vale decidiu retribuir aos chineses lançando uma campanha publicitária da qual o craque Ronaldo é o garoto-propaganda. Nos anúncios, que começaram a aparecer nos jornais em maio, a empresa diz que é a maior parceira da China no Brasil, investindo e criando empregos no país asiático. A campanha pode ser lida como um afago para enternecer os ânimos das autoridades chinesas, que têm jogado com mão de ferro nas negociações para definir o preço do minério nos contratos a longo prazo. Com a crise mundial, as cotações caíram acentuadamente, e a China tenta tirar proveito dessa situação para derrubar ainda mais o preço que pagará pela commodity. Nessa disputa, os chineses se valem de chantagens, intimidações às empresas estrangeiras e até acusações (até aqui, sem provas) de espionagem, que levaram à prisão de quatro executivos da empresa de mineração anglo-australiana Rio Tinto.
Em uma história turva, policiais detiveram, há duas semanas, quatro funcionários do escritório de Xangai da Rio Tinto, um deles australiano. A alegação é que eles teriam subornado pessoas ligadas às siderúrgicas chinesas para obter informações confidenciais sobre estoques de minério e assim ter a chance de sentar-se à mesa de negociações em condições privilegiadas. A empresa nega veementemente, e o episódio descambou para um conflito diplomático entre a Austrália e a China. Segundo especialistas do setor, os chineses, na verdade, ficaram desgostosos com o fato de o governo australiano ter impedido, no mês passado, que a siderúrgica Chinalco, uma estatal chinesa, ampliasse a sua participação na Rio Tinto. Para a Austrália, se o negócio fosse adiante, haveria o risco de a empresa ficar submetida aos interesses do governo chinês, e não aos de seus acionistas privados em todo o mundo. Pela prisão autoritária dos executivos, parece que o temor dos australianos era justificado.