Leandro Narloch
Embora pequeninas, as formigas da espécie Linepithema humile, conhecidas como formigas argentinas, destroem plantações, atacam borboletas e besouros e reduzem a quantidade de pólen das flores de árvores frutíferas ao passear sobre suas pétalas. Na semana passada, cientistas fizeram uma descoberta notável sobre essa espécie. Seus imensos contingentes espalhados em regiões da Europa, dos Estados Unidos e do Japão (veja o quadro) formam na verdade uma única imensa colônia. Segundo o estudo, realizado pela Universidade de Tóquio, essa supercolônia seria a maior já registrada entre todos os tipos de insetos. A invasão das formigas argentinas começou no século XIX, quando grupos delas cruzaram os ocea-nos como clandestinas a bordo de navios mercantes. Mesmo um punhado de formigas operárias, acompanhadas da rainha, é capaz de dar início a sociedades com milhões de formigueiros.
Os cientistas japoneses chegaram à conclusão sobre o parentesco entre as formigas dos três continentes ao descobrir a semelhança entre o cheiro que elas exalam. Por meio do cheiro, as formigas identificam suas colegas da mesma colônia e detectam as intrusas, que são atacadas e eliminadas. Na América do Sul, as formigas argentinas de colônias diferentes costumam competir entre si e atacar umas às outras. A pesquisa japonesa descobriu que, nas três regiões pesquisadas, as formigas de colônias diferentes, mesmo as situa-das a milhares de quilômetros de distância, não se identificam como inimigas. Isso significa que pertencem não apenas à mesma espécie – mas à mesma colônia.
O estudo teve início quando se juntaram espécimes das três regiões numa pequena arena e eles se mostraram amigáveis, esfregando as antenas. Os cientistas acreditam que a origem dessa camaradagem está no fato de as formigas das regiões pesquisadas terem origem num grupo muito pequeno de insetos e, portanto, serem geneticamente parecidas, o que não acontece com os espécimes que vivem na América do Sul. "A enorme extensão dessa população de formigas só encontra paralelo na sociedade dos seres humanos", escreveram os pesquisadores no jornal científico Insectes Sociaux, no qual o estudo foi publicado. Como as colônias de formigas argentinas fora da América do Sul não competem entre si, elas formam um superexército que ataca e chega a causar a extinção de outras espécies de formigas, como já aconteceu na Califórnia, no Havaí, na África do Sul e até mesmo na longínqua Ilha de Páscoa. As formigas vivem em todos os continentes, à exceção da Antártica. Em algumas regiões tropicais elas são tão numerosas que, se todos os animais locais fossem pesados em balança, responderiam por um quarto do peso total obtido. A descoberta da grande colônia mundial de formigas argentinas adiciona um curioso capítulo ao perfil desses fascinantes insetos.
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