Shakespeare, Cervantes e Lima Barreto são alguns dos
autores que ganharam versões adaptadas para crianças.
Nos últimos três anos, o número de clássicos para esses
leitores cresceu 70%.
Monica Weinberg
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Ilustração sobre foto de Moodboard/Corbis/Latinstock |
No mês passado, uma versão em quadrinhos de O Alienista, conto de Machado de Assis, venceu o Jabuti, o mais tradicional prêmio literário brasileiro. Como ele, outras adaptações para crianças conseguem manter o espírito e a riqueza do texto original – mas isso não ocorre com todos os livros do gênero. A pedido de VEJA, a escritora Tatiana Belinky, a professora da Unicamp Marisa Lajolo e a pesquisadora Celina Rondon, todas especialistas no assunto, analisaram cinco das adaptações mais vendidas no mercado brasileiro. Ao fazerem uma apreciação sobre cada obra, elas sempre comparam a versão infanto-juvenil à original. De modo geral, as cinco adaptações a seguir foram bem avaliadas. Eis os comentários.
MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS (Manuel Antônio de Almeida, Cia. Editora Nacional)
Quem adaptou: Lailson de Holanda Cavalcanti
O original: publicado em 1854, é um dos primeiros livros do romantismo brasileiro, precursor do realismo. Com ironia, mostra a vida das classes média e baixa do Brasil da época
Comentário sobre a adaptação: ilustrações que ajudam a recriar o ambiente em que se passa a história tornam os clássicos mais atraentes para as crianças – caso deste livro. Outro acerto é separar as intervenções do narrador (sempre na parte superior dos quadrinhos) dos diálogos dos personagens (nos balões). A técnica ajuda na compreensão do enredo
Faixa etária mais indicada: a partir de 11 anos, quando as crianças já são apresentadas, na escola, às diferentes técnicas narrativas
TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA (Lima Barreto, Ed. Scipione)
Quem adaptou: José Louzeiro
O original: publicado em forma de folhetim em 1911, o livro é considerado a obra mais importante de Lima Barreto. O romance conta a história de um major ultranacionalista e faz críticas ao Brasil pós-republicano
Comentário sobre a adaptação: é fiel ao estilo do autor e, embora suprima algumas passagens da história, mantém o essencial dela. Neste caso, a condensação é bem-vinda. Diante de um enredo mais enxuto, a criança não perde o interesse e, ao final, é apresentada aos aspectos mais fundamentais da obra
Faixa etária mais indicada: a partir de 12 anos. Ainda que a fartura de ilustrações possa atrair leitores mais novos, a história, bastante densa, dificilmente vai fisgá-los
DOM QUIXOTE EM QUADRINHOS (Miguel de Cervantes, Ed. Peirópolis)
Quem adaptou: Caco Galhardo
O original: publicado em duas partes, em 1605 e 1615, o clássico espanhol foi eleito recentemente o melhor livro de ficção de todos os tempos
Comentário sobre a adaptação: foram preservadas apenas algumas aventuras, sem a preocupação de contemplar o enredo na íntegra. O mérito desta versão é ter o tamanho necessário para despertar a atenção das crianças sem empobrecer os aspectos psicológicos dos personagens nem deixar de fora trechos marcantes do original
Faixa etária mais indicada: a partir de 9 anos. Apesar da linguagem um pouco rebuscada, a criança é atraída pelos desenhos de traços simples, que ajudam a contar a história
SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO (William Shakespeare, Cia. Editora Nacional)
Quem adaptou: Barbara Kindermann
O original: a comédia, uma das mais conhecidas da literatura ocidental, foi escrita no século XVI. Nela, confusões amorosas são agravadas por fadas e elfos que fazem os humanos confundir-se em relação a quem destinam seu afeto
Comentário sobre a adaptação: retira do texto construções lingüísticas mais rebuscadas e difíceis de ser entendidas por uma criança, sem abandonar a sofisticação do original. Há, no entanto, palavras cujo significado os leitores mais novos precisarão consultar no dicionário – algumas delas já incluídas no glossário do livro. Mesmo adaptando um texto poético para a prosa, preserva um bom ritmo, decisivo para garantir a atenção das crianças
Faixa etária mais indicada: a partir de 7 anos, idade em que já há certo domínio da linguagem
O ALIENISTA (Machado de Assis, Ed. Agir)
Quem adaptou: Fabio Moon e Gabriel Bá
O original: publicado em 1882, é tido como um dos melhores contos do autor
Comentário sobre a adaptação: a cuidadosa recriação de vestimentas e cenários da época nas ilustrações dos quadrinhos facilita o envolvimento da criança com o conto. A apresentação visual da história enriquece a narrativa com detalhes que, na obra original, passariam despercebidos aos leitores mais jovens
Faixa etária mais indicada: a partir de 13 anos. O texto satírico e repleto de ironia pode ser de difícil compreensão antes disso