A atividade bancária, tal como conhecida hoje, tem pelo menos 500 anos.
Deveria este ter sido um período suficientemente longo para que governos e entidades encarregadas de regulação e supervisão soubessem como lidar com os bancos durante crises financeiras.
E, no entanto, vêm sendo tantas e tão grandes as lambanças praticadas pelos dirigentes políticos nestes três anos de crise que ficou mais apropriado dizer que os governos não sabem como tratar os bancos.
O estouro da bolha do subprime (financiamentos habitacionais) nos Estados Unidos em 2007/08 denunciou uma lista extensa de práticas abusivas dos bancos. Ficou entendido que o setor operava solto demais e, em grande número de casos, sem nenhuma supervisão dos bancos centrais e de agências de regulação.
A quebra do Lehman Brothers, em 2008, foi afinal autorizada pelo então secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson (foto), e por Ben Bernanke, ainda presidente do Federal Reserve (Fed, banco central), para servir de exemplo, para intimidar e para tentar enquadrar os demais banqueiros. No entanto, deu tudo errado. O colapso provocou uma devastação em todos os mercados e não apenas no dos Estados Unidos.
As autoridades entendiam que a retirada do ar do (apenas) quinto maior banco de investimentos (nem banco comercial era) dos Estados Unidos seria facilmente absorvida. Não foi. O pânico se espalhou. Ficou claro que os pilotos não sabiam manobrar um Boeing em situação de emergência. Mesmo instituições financeiras relativamente pequenas, como o Lehman, passaram a ser consideradas grandes demais para falir.
A decisão seguinte foi estatizar ou socorrer com recursos públicos todas as instituições financeiras que apontassem sinais de colapso iminente. Só nos Estados Unidos foi aprovado um pacote de US$ 700 bilhões denominado Programa de Alívio de Ativos Problemáticos (Tarp, na sigla em inglês).
Para tentar resgatar um nível mínimo de confiança, tanto representantes americanos como da União Europeia submeteram grande número de bancos a testes de estresse - simulação de computador para aferir quanto de calote um banco consegue suportar sem ter de aumentar seu capital. O objetivo era demonstrar ao distinto público que a grande maioria deles não enfrentava problemas e que, portanto, não fazia sentido tanta perda de confiança. Logo se viu que os critérios adotados nesses testes foram altamente questionáveis. Em todos os casos, títulos de dívida de países soberanos foram considerados de excelente qualidade e, no entanto, poucos meses depois ficou demonstrado que estão sujeitos a calote - o que aumentou a vulnerabilidade das finanças dos bancos, especialmente na Europa.
A exigência inicial do governo alemão de que não só o setor público, mas também os credores (portanto, os bancos) deveriam engolir prejuízos em vez de reduzir, aumentou o endividamento dos Estados porque elevou a vulnerabilidade dos bancos expostos às dívidas públicas e, logo, cresceu a necessidade de assistência por parte de Estados nacionais excessivamente endividados. Afora isso, aprofundou-se a desconfiança dos bancos em relação a outros, fator suficiente para truncar o financiamento interbancário não só na Europa, mas, também, nos negócios intercontinentais.
O simples rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida soberana é capaz de mudar o jogo entre governos e bancos. Implica expandir o risco dos ativos detidos pelos bancos e, assim, a necessidade de mais capital a ser provido pelos governos. É o que teme, por exemplo, o governo da França, cujos títulos estão sob ameaça de perda do tríplice A.
Por outro lado, a exigência de maior capitalização dos bancos decidida em várias reuniões de cúpula da área do euro produziu novos impasses. Para ajustar a proporção adequada de capital a seus ativos, no lugar de aumentar o capital, a maioria dos bancos vem preferindo reduzir seus ativos. A principal consequência dessa manobra é a redução dos empréstimos. Um dos fatores de retração da atividade econômica nos países avançados é essa nova tendência ao colapso do crédito.
Enfim, tudo se passa como se os dirigentes políticos não tivessem aprendido ainda a lidar com os bancos, especialmente em tempos de crise. Qualquer remédio produz efeitos colaterais funestos que, em vez de curar, ameaçam matar o doente.