Comunismo, Revisionismo, Capitalismo
Política

Comunismo, Revisionismo, Capitalismo


Acaba de ser revelado um plano mantido em segredo concebido pela China de Mao Tsé-Tung em 1955 para superar os Estados Unidos dentro de 100 anos. Um programa baseado na tradição milenar da arte de governar chinesa, adaptando-a posteriormente à modernidade muito por influência da célebre visita de Nixon e Kissinger àa China na década de 70. Já passou mais de metade de um século e o êxito de uma economia planificada como player global face à selvajaria capitalista mundial é já bem visível. Nesse documento, escrevia Mao sobre a principal tarefa da Revolução: "vamos acabar com a crença errónea generalizada de que China é um país atrasado, pobre e introspectivo” (ler mais). Neste contexto, faz todo o sentido revisitar as etapas divergentes que resultaram do conflito ideológico entre o Partido Comunista da China e o Partido Comunista da URSS.

No início do ensaio "Duas Revoluções", publicado na New Left Review há cinco anos, Perry Anderson descreveu o seu objectivo como uma explicação do contraste entre os resultados históricos das revoluções comunistas russa e chinesa. A sua tentativa envolveu a reflexão em quatro níveis: forças revolucionários originais; pontos de partida objectivos para a reforma; escolhas políticas durante a reforma e suas consequências; e a longo prazo a determinante cultural-histórica. Pode-se assim esperar um tratamento simétrico das duas revoluções, mas isto não é o que se seguiu. "o Partido Comunista da China sobreviveu à queda URSS, comenta Anderson, e o seu futuro coloca talvez o maior enigma central da actual política mundial. O foco organizador do que se segue será a China, que não se reviu no regime reformista burocrata do capitalismo de Estado russo. Por outras palavras, o desfecho do caso russo ajudou a lançar luz sobre as decisões politicas chinesas, mas o contrário não se tinha verificado, para mal dos russos. A União Soviética falhou, e seu fracasso serviu como testamento para o sucesso da República Popular da China. ("The Party and its Sucess Story, by Wang Chaohua)A Response to ‘Two Revolutions’

O relato de Anderson do “Southern Tour of 1992” de Deng Tsiau Ping aparece como o ponto de ruptura fundamental, quando a China finalmente virou a sua orientação socialista interna e abraçou o mainstream do capitalismo mundial. Mas, como observado anteriormente, pelo menos desde 1987, Deng já tinha resolutamente abraçado o desenvolvimento económico como tarefa central do Partido. Para Deng e para o PCC, o significado mais importante e duradouro da “Revolta” de Tiananmen foi que se cancelou a necessidade de justificar posições políticas ao velho discurso "socialista", um convite para perguntas irritantes. "Socialismo" passou agora simplesmente a significar que o Partido iria permanecer no poder a todo o custo, como garante da Constituição Socialista. Foi na sequência de Tiananmen que se tornou possível a Deng propagar o slogan: "a Estabilidade acima de todo o resto" (wending yadao yiqie). Foi neste contexto que Deng ordenou aos decisores políticos para parar a conversa fútil sobre o 'capital socialista' e 'capital capitalista'.

Para entender isto, é útil olhar novamente para a Rússia. A comparação de Anderson entre os dois países rompe-se neste momento, pela razão de que a União Soviética deixou de existir em 1991. Mas mesmo a Rússia pós-soviética talvez possa ter algo importante a dizer-nos sobre a China pós-maoísta. A perestroika foi claramente a reforma política privilegiada sobre a reforma económica, enquanto na China a reforma económica foi a prioridade a todos os niveis, sendo o factor politico sacrificado à economia. O primeiro caminho levou, na análise padrão, a completar o desastre, o segundo para um sucesso espectacular. Medido pelo crescimento do PIB, o contraste é evidente. Mas há um outro lado da história que geralmente é negligenciada. Nas duas sociedades, quem suportou os custos da reforma? Na URSS, porque a mudança política veio primeiro, garantindo pelo menos a liberdade de expressão (e, em certa medida de organização), com várias opções a escolher nas urnas, era difícil para o Estado lançar todas as responsabilidades para o bem-estar social. Mesmo após o colapso da União Soviética, e da celebração aberta do capitalismo em uníssono pelos Governantes e pelos Media, os Estados sucessores mantiveram quase invariavelmente, de algum modo e dentro do possível, os programas públicos de educação e cuidados de saúde herdados do tempo de vida da URSS.

Em contrapartida, ao colocar a reforma económica em primeiro (e último) lugar, a liderança chinesa empenhou-se em reduzir os encargos do Estado, quebrando sem qualquer preconceito moral e de modo dialéctico as promessas políticas da República Popular e suas classes trabalhadoras unidas como um todo metafisico. Bem antes da inflação de 1988, numa altura em que Deng cooperava ainda de forma amigável com Zhao, o governo central já estava a preparar legislação sobre falências de empresas inviáveis e esquemas para o marketing de trabalho e mercado de habitação, sem se preocupar com a opinião pública, opções geralmente aceites por se tratar de libertar os meios de produção do espartilho do Estado, globalizando a sua influência a nível de mercado mundial.



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