A semana começou tensa. Indicadores negativos na China e nos Estados Unidos, declarações sombrias de Ben Bernanke e intervenção do Fed no mercado - assustando tanto quanto ajudando -, desemprego em alta, consumo retraído. Houve certo alívio na sexta-feira, com o anúncio de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na zona do euro de 0,2% no segundo trimestre, mas não foi suficiente para atenuar o pessimismo no mercado que terminou em baixa pelo quarto dia consecutivo.
Nos primeiros dias da semana, falava-se em risco de nova recessão, depressão, deflação, com os preços tendo a menor alta desde 1960. Temendo errar como erraram ao avaliar a crise financeira, agora ninguém se arrisca muito a fazer previsões. Mesmo assim, ouviu-se ainda falar muito em crise financeira e recessão, que Paul Krugman e Nouriel Roubini acham inevitável se não houver mais, muito mais estímulos fiscais mesmo ao custo de um déficit maior. O que existe está perdendo fôlego.
"Há muita conversa sobre deflação, mas os números ainda não estão mostrando isso", refuta Zack Pandl, da Neumura Securities.
"Não é que está piorando, mas que não está melhorando em relação ao que já estava ruim", afirmou o analista americano William Schultz, refletindo o clima no mercado financeiro. Temos visto uma série de notícias ruins, acentuadas pelo próprio Bernanke, que não foram superadas, diz outro analista.
Não se sustenta. O crescimento de 0,2% da zona do euro no primeiro semestre não impressionou. Ele se deve a um aumento de 2,2% do PIB da Alemanha, alimentado por mais exportações para um mercado mundial retraído. Não vem, como deveria ser: sustentável. A Alemanha continua aumentando seu superávit comercial que ficou em U$ 77 bilhões entre janeiro e maio. Reprime demanda, aumenta vendas externas, principalmente, para parceiros na União Europeia.
E eles vem a nós. Encolhidos, se defendem e vão às vendas, em busca de mercados que ainda crescem na esteira da agressividade alemã. Quais? Se o leitor disser China, está certo. A agência oficial de estatística da União Europeia, Eurostat, registra um aumento de 42% com a China entre janeiro e maio, mas há uma surpresa desagradável. Acreditem, a União Europeia aumentou ainda mais as exportações para o Brasil.
Vai ficar assim. As conclusões neste fim de semana são que na esteira dos Estados Unidos e da China, a economia mundial vai continuar crescendo menos. Mais grave, muito mais grave, esse pequeno aumento está ocorrendo via exportações dos países centrais para os emergentes, criando sérias e insustentáveis distorções comerciais. Os países desenvolvidos estão crescendo para fora, não para dentro. E não há o menor sinal de mudança.
Jorg Kramer, economista do Commerzbank, na Alemanha, lançou na sexta-feira um alerta: "Não há impulso econômico em toda a Europa (nos Estados Unidos e no Japão também.) Há muita coisa a caminho". O quê? Economia mundial parando na dependência do crescimento de apenas meia dúzia de países do Leste Asiático, da América Latina e da Índia. A Rússia, está descartada.
Os Estados Unidos parecem acomodados nessa situação e a União Europeia ocupa mercados para crescer e sair do clima de recessão.
O que muda. Não muda. E, incrível, parece que nem nós estamos querendo mudar. Eles continuaram forçando as vendas num mercado mundial que cresce menos que em anos anteriores, mesmo antes da crise, simplesmente porque não há decisão política de adotar medidas que sustentem o crescimento interno. E nós estamos aceitando isso apesar dos veementes protestos do presidente que eles não ouvem.
Não sei se Paul Kurgman não estaria certo ao dizer que a recessão não é um risco. Está por aí. |