O Estado de S.Paulo - 12/07
O Brasil está preparado para enfrentar a crise na zona do euro, tem reservas, tem liquidez, pode reduzir os juros porque a inflação recua, tem um mercado financeiro saudável, conta ainda com o potencial do mercado interno, mas está preparado para a desaceleração da China. E aumentam os sinais de que o PIB chinês não deve passar de 7,5% este ano. Muitos analistas falam no comércio entre os dois países, com a China importando menos, mesmo assim, ainda comprando commodities, petróleo, minério de ferro, soja. Além disso, argumentam, o comércio entre os dois países - importação e exportação -, hoje de US$ 37,2 bilhões, continua vigoroso. Cresceu 7% no primeiro semestre do ano, sobre igual período de 2011. É verdade que as importações da China aumentaram 9% enquanto as exportações apenas 6%, mas o Brasil ainda acumula um superávit de US$ 5,1 bilhões no semestre.
Medo de quê? Sim, se a China continua sendo um dos maiores e mais vigorosos mercados do Brasil, onde está o problema? Aqui, um aspecto para o qual poucos atentam. A China não está importando menos do Brasil ou algo parecido, está crescendo menos e importando menos do mundo, Ou seja, dos nossos parceiros comerciais - Estados Unidos, Europa - e nem falamos do espaço que ela está roubando dos produtos brasileiros na Argentina e no mercado mundial. A China é, com os Estados Unidos, o maior importadora mundial, em torno de US$ 2 trilhões por ano; representa cerca de 16% do comércio mundial. Seus principais parceiros são Estados Unidos, União Europeia e Japão - em recessão, ou crescendo não mais que 1,5%.
E os números divulgados esta semana em Pequim mostram que a economia chinesa está crescendo menos; o FMI estima 7,5%, o governo fala em 8,0%. E um crescimento sustentado pelo setor imobiliário onde surgem nítidos sinais de superaquecimento e especulação. Uma pesquisa feita na China mostra que 1 entre 5 pessoas compraram dois imóveis. Já se viu isso nos Estados Unidos e, agora, na Espanha. Esses mesmos indicadores informam que os investimentos representam 49% do PIB, em obras do governo, sim, mas a maior parte no setor imobiliário. Desde 2010, o governo procurou desestimular as compras especulativas, aumentou em 60% a entrada para adquirir um segundo imóvel, mas dá sinais de estar recuando. O consumo interno, que representa 35% do PIB chinês, não está reagindo e a saída encontrada pelo governo é forçar o aumento das exportações, importar menos e intensificar a compra de produtos nacionais.
E é isso que os números do comércio exterior chinês confirmam. As exportações chinesas aumentaram 11,3% em junho e as importações apenas 6,3%. E isso ocorreu em todos os setores, não apenas de commodities. A China voltou a usar o câmbio. "O ritmo no crescimento do comércio na segunda economia do mundo recuou para o nível mais baixo desde a crise global de 2008. Como a demanda interna não reagiu aos estímulos ainda indefinidos do governo, pode-se esperar mais pressão sobre o mercado externo", afirma Alister Cham, da Moody's Analistic.
"A desaceleração das importações chinesas foi maior do que se esperava", e se espera mais porque há nítidos sinais de que a economia chinesa não deve reagir este ano. Haverá mais protecionismo e mais pressão sobre o mercado externo. Só que será difícil encontrar mais espaço nos Estados Unidos ou Europa, que representam quase 50% das exportações chinesas. Restam os outros países. Nós.
Comércio encolhe. O que a OMC e a Unctad (Agência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento) estão prevendo é uma forte desaceleração do comércio mundial, que deve crescer menos de 3,7% depois de haver aumentado apenas 5% no ano passado e 13% em 2010.
Não é só isso. Mas os indicadores da China não mostram apenas uma retração do comércio mundial; afinal, isso poderia ser compensado pelos outros países com maior incentivo à demanda interna e aos investimentos. É muito mais. O que a China confirma é a desaceleração da economia mundial que, já se prevê, não deve crescer muito mais de 3% este ano. Não há mercado externo, não há incentivos internos nos países que representam quase 60% do PIB mundial. Um cenário inquietante e desanimador no qual o Brasil tenta, mas ainda não se ajustou. Não é a Europa, a zona do euro. É tudo. É a economia mundial que está parando.