A origem, o destino e o custo dos 11 trilhões de dólares
que já foram despejados para reativar a economia mundial
Benedito Sverberi
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Os principais países do mundo já despejaram 11 trilhões de dólares em sua economia, na forma de resgate a bancos encrencados, de redução de impostos ou por meio de investimento em projetos de infraestrutura. Ajustado pela inflação, o valor equivale a cem vezes o custo do Plano Marshall, o pacote que salvou os países europeus arrasados pela guerra.
QUAL A ORIGEM DOS RECURSOS?
A maior parte dessa montanha de dinheiro simplesmente não existia. São recursos novos, papel-moeda impresso pelos Estados Unidos e por outros países para compensar, ao menos em parte, a contração abrupta do crédito. Isso só é possível porque os governos têm o monopólio da impressão de dinheiro. A quantidade de moeda em circulação na economia americana passou de 781 bilhões de dólares, em setembro passado, para 837 bilhões, em março. Os pacotes de ajuda também são compostos de mais dívida pública. Em suma, o governo não só imprime mais notas como também emite mais títulos, endividando-se. O déficit fiscal americano deverá quadruplicar de 3,2% do PIB, em 2008, para 12% ainda neste ano, o maior desde a II Guerra Mundial.
PARA ONDE VÃO OS DÓLARES?
O volume principal do dinheiro tem sido empregado para salvar o sistema financeiro. O governo inglês, por exemplo, comprometeu o equivalente a 35 bilhões de dólares em dinheiro público para manter o Lloyds de pé. Nos Estados Unidos os números são ainda maiores. A seguradora AIG já recebeu 180 bilhões de dólares. O Citibank levou 45 bilhões de dólares. Outra parcela tem sido destinada a obras públicas. O plano de Obama prevê um gasto de 28 bilhões de dólares para construir e renovar estradas e de 11 bilhões de dólares para aprimorar a rede elétrica. O pacote chinês estima investimentos de 585 bilhões de dólares em obras grandiosas de infraestrutura.
QUAL O CUSTO DESSA AÇÃO?
Dinheiro não cai do céu nem dá em árvore. Ampliar os gastos públicos hoje significa antecipar a utilização de recursos que deveriam ser usados no futuro. E criar recursos para os quais não há lastro imediato. Ainda que seja a única solução possível no momento, ela traz custos e riscos. O aumento do endividamento americano, por exemplo, fará com que investidores considerem os títulos do país mais arriscados, exigindo juros mais altos. O excesso de moeda em circulação também deverá pressionar, em algum momento, a alta na inflação. O pior cenário, a propósito, seria um descontrole nos preços, a exemplo do que houve no Brasil há duas décadas. "O Tesouro americano sempre pode imprimir dinheiro à vontade. A curto prazo faz sentido, mas essa é a ação mais temerária", diz Márcio Garcia, professor de economia da PUC Rio. "O desafio será desmontar rapidamente esse mecanismo quando a economia mundial começar a reagir. Será como fazer uma cirurgia arriscada em um paciente fragilizado."