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O CAMINHO DA COCEIRA pode estar na espinha dorsal, diz pesquisa |
Durante décadas os cientistas acreditaram que a coceira e a dor eram variações da mesma sensação corporal. A ideia era que ambas utilizavam as mesmas terminações nervosas na pele e os mesmos circuitos neuronais. Pensava-se, portanto, que elas deveriam ter o mesmo tratamento terapêutico. Essa hipótese começou a mudar quando, há dois anos, os cientistas descobriram que as duas sensações estão relacionadas a genes diferentes. Era o caminho para a conclusão a que se chegou agora. Na semana passada foi anunciado o resultado de um estudo que separa definitivamente as duas sensações. Coordenada pelo pesquisador Zhou-Feng Chen, da Escola de Medicina da Universidade de Washington, a pesquisa encontrou evidências de que, embora as terminações nervosas capazes de identificar as duas sensações estejam localizadas na pele da mesma forma, elas utilizam caminhos diferentes do sistema nervoso para chegar ao cérebro. Trabalhando com ratos, os cientistas encontraram circuitos específicos para a coceira. O avanço é notável. O que se conseguiu foi bloquear a sensação de coceira sem afetar a sensibilidade dos roedores à dor, uma proteção natural do corpo.
Há mais de cinquenta doenças catalogadas que podem produzir coceiras desesperadoras. Eczemas, psoríase, alergias e infecções são algumas delas. Daí a importância de descobrir os mecanismos específicos que regem a sensação de prurido. A dificuldade é que o sistema nervoso é um emaranhado. Nos organismos mais complexos, como o corpo humano, as sensações táteis são suportadas por uma extensa teia de terminações nervosas. Para identificar as diferenças, a equipe de Cheng – por sinal, a mesma que fez o sequenciamento genético da coceira – trabalhou por mais de dez anos. Agora aponta para o alívio de um problema que aflige cotidianamente milhões de pessoas.